Foto: Pregnancy – Alba Romá
E, de repente, o tema Amor.
Mote preferido dos poetas, inspiração maior dos que, não sendo poetas, escrevem versos. Tema nunca esgotado pelos pensadores, matéria viva e pulsante que alimenta livros, sustenta a eternidade dos melhores romances e confirma a intemporalidade dos contos infantis.
Seiva da própria vida, elixir de juventude, fome do espírito, alimento da saudade. Tempero sensorial das palavras mais simples. Ingrediente básico para as declarações mais requintadas. Tema de apetência natural e conhecimento transversal a todos a quem é pedido que fale dele - do Amor.
E, de repente, eu aqui, ser amante e amado, sem saber o que escrever sobre Ele. Eu, que já escrevi cartas de amor ridículo, já sonhei romances de amor eterno, já persegui sonetos de amor espartilhado, já senti amor de versos livres, já magoei poemas de amor inocente, já rimei saudades com amor vivo, eu, que já sublimei tantas palavras de amor... temendo dissertar sobre Ele sem cair em fossos comuns, ou tropeçar em palavras já exauridas de sentido e originalidade.
Eu que, como todos vós, sabe da sua importância nas relações humanas, e em todos os pontos e nós do tecido que nos interliga, eu, sem saber que parábola escrever para o explicar. Em que pequena frase o definir. Em que longo depoimento o interpretar. Em que simples palavras o elevar ao princípio e fim de tudo o que existe. Direi que o sinto, que o tenho dentro de mim, que nasci dele e para ele. Direi que dele necessito como pão para a boca. Direi que preciso de dar desse pão aos outros, para poder sobreviver. Que há vezes em que me sinto, simultaneamente, a explodir de saciedade dele e a mirrar de fome dele. Direi que sou humana - e que muitas, muitas vezes, não consigo manter equilibrado o fluxo desse sentimento que, como o sangue do nosso corpo, tem uma circulação própria e fundamental no corpo da sociedade - receber para respirar, dar para viver.
Mas sei que respeitar a circulação vital do Amor dos outros em tudo o que nos cerca, é o primeiro passo para conseguir ser feliz. Ou, pelo menos, para continuar capaz de Sentir - sem precisar ou saber explicar o silêncio onde cabem todas as memórias do ventre da nossa mãe.
Teresa Teixeira