Foto: Father – Olichel Adamovich
Agosto é por excelência o mês da saudade. Muitos chegam e muitos partem. Se calhar partem alguns que não chegaram, aproveitando a boa ventura partilhada por familiares próximos. Agosto é também, por excelência, o mês das férias e o mês em que sou “obrigado” a gozar os dias em lei consagrados. Fazem-se planos, junta-se a família e espera-se pelo melhor. Sim, porque as férias de cada ano têm de ser melhores que as anteriores. As deste ano serão vividas e as outras, por muito boas que terão sido, são memórias.
E de memórias muitas vezes se fazem as férias. A expetativa do que virá está com certeza toldada pelas memórias de experiências passadas.
Este ano encontrei-me na contingência de umas férias desfasadas do calendário da minha esposa. Quinze dias, só eu os miúdos portanto. Um miúdo e meio na verdade. O mais velho já tem a namorada, os festivais, a praia, o carro e sei lá mais o quê para preencher os seus dias de agosto. Por acordo dispenso-lhe assim a liberdade para empreender as suas “cenas” e passar apenas uma semana com o “cota”.
Nos primeiros sete dias, eu e o mais pequeno, resolvemos facilmente a equação. Praia, serra, mar, rio, piscina, aldeia e cidade. Os avós, as galinhas, os porquinhos-da-índia, os patos, a cadela. Deitar tarde, acordar tarde, os calções de banho, o protetor solar, os chinelos, a coluna de som, a música, as fotos, o calor insuportável e os dias de chuva que estragam tudo. Tudo acabado, tudo enrolado em (boas) memórias.
Nos seguintes sete dias (já agraciados com a presença do mais velho) decidi viajar. Mais para trás. Muito para trás e para o centro, na verdade.
Reservei quarto num hotel construído em 1859, localizado no Luso, mesmo na entrada da Mata do Bussaco. Locais cheios de história portanto. História comum e nacional até. Zona de história também, mas de história familiar. O meu avô nasceu por aqui perto. Avô que o mais velho conheceu mas que o mais novo não teve a mesma sorte. Herdou-lhe o nome, contudo. Justa homenagem ao meu maravilhoso avô. Confesso o meu receio por esta decisão de revisitar o antigo. Claro que os miúdos preferem as coisas novas. O high-tech. Os hotéis xpto vestidos de vidro, aço e madeiras. As grandes piscinas e salas de refeições. Aqui, nada disso. Pelo menos o acesso wifi não era mau...
Afinal correu bem. Resmungaram por fazer a mata a pé, mas gostaram. Torceram o nariz quando viram o hotel, mas gostaram. Mostraram-se se calhar surpresos quando lhes anunciei o meu plano para o último dia: em ar de passeio seguiríamos para a aldeia onde o bisavô nasceu. A mim já sabia o que me esperava no coração, na garganta, na face e nas memórias. Da parte dos miúdos não fazia ideia...
O que aconteceu quando entrámos naquela rua estreitinha que dá para o cemitério onde os bisavôs deles estão sepultados, guardo para nós. Mas posso dizer que existem viagens que não têm preço. São viagens que nos levam mesmo ao centro...
Rui Duarte