Foto: Stunning Sunset – Maliz Ong
Brittany Maynard escolheu o dia em que queria morrer. “Hoje [1 de novembro de 2014] foi o dia que escolhi para morrer com dignidade”, disse na mensagem de despedida que deixou.
A decisão da jovem de 29 anos foi tomada para evitar o sofrimento de passar por uma doença dolorosa – um cancro no cérebro. Depois de duas cirurgias e da doença ter-se agravado, foram-lhe dados seis meses de vida. Os tratamentos adequados ao seu caso seriam demasiado agressivos e tirar-lhe-iam qualidade de vida, talvez, dignidade. “Como o meu tumor é grande, os médicos prescreveram-me radiação cerebral. Li sobre os efeitos secundários: o cabelo ficaria queimado e o meu couro cabeludo ficaria coberto por queimaduras de primeiro grau. A minha qualidade de vida desapareceria”, elucidou a jovem.
Brittany teve de se mudar para Portland (Oregon) – vivia em Oakland (Califórnia) -, onde lhe foi permitido tomar essa decisão e “morrer com dignidade”, como sempre frisou.
Mas esta opção, explicou, obedece a critérios: “A opção de pôr fim à vida é para pacientes mentalmente capazes e em estado terminal, com um prognóstico de seis meses ou menos”.
Pediu e recebeu de um médico uma prescrição com os medicamentos que deveria tomar para pôr termo à vida, se algo se tornasse insuportável. Tinha nas mãos o seu destino, sem que ninguém a obrigasse a nada. “Não sou suicida. Se fosse, já teria tomado os medicamentos há muito tempo. Não quero morrer. Mas estou a morrer. E quero morrer nos meus termos”, acrescentando: “Ter esta escolha no fim da minha vida tornou-se tremendamente importante. Deu-me paz durante tempos tumultuosos que, de outra forma, teriam sido dominados pelo medo, pela incerteza e dor”.
O suicídio assistido difere da eutanásia. No primeiro é a própria pessoa/doente que provoca a sua morte, embora com a ajuda de uma outra que lhe prescreve o tratamento necessário para tal; já a eutanásia é feita por uma terceira pessoa.
Em Portugal, e em muitos outros países, o suicídio assistido e a eutanásia não são legais. Mas não teriam outras pessoas com casos idênticos ao de Brittany e em pleno de todas as suas faculdades mentais a possibilidade de escolha e de livre arbítrio? De também elas poderem escolher “uma morte com dignidade”?
Sandra Sousa