Foto: Autor desconhecido - Coleção F. Cabral
Dali, daquele sítio sobranceiro ao rio Douro, é possível desfrutar de toda a panorâmica fabulosa que a vista alcança, dominada por essa excelente via fluvial pela qual veio, desde tempos imemoriais, o progresso e o desenvolvimento à “mui” nobre cidade do Porto. O afluxo e o movimento de barcos às ribeiras de ambas as margens foi sempre uma constante, o que parece dar vida eterna àquelas paragens. As próprias marginais, com a intensa circulação de pessoas e tráfego de mercadorias, também muito concorreram para ser um lugar de grande atividade comercial e turística. Toda a zona envolvente está repleta de história e de “histórias”, não fosse aquele o lugar donde proveio o nome de Portugal. Era dali que o menino da “rua” observava o “vai e vem” dos barcos, a chegada e a partida dos navios de maior calado que rumavam para muito longe, para lugares distantes que ele sonhava um dia visitar.
De vez em quando, ouvia a narrativa dos “embarcadiços” que demandavam a Gronelândia à pesca do bacalhau, cujos barcos, na época do defeso, ficavam atracados no cais de Massarelos. O que mais o encantava e obcecava era o “partir” desses navios. Para ele, a palavra “partir” assumia um sentido mágico, qual sortilégio da imaginação infantil, porque significava ir viajar, ir conhecer outros lugares, outras gentes e, sobretudo, a possibilidade de adquirir mais conhecimentos, ganhar mais “vida da vida para a vida”. No sítio, que lhe servia de autêntico miradouro, podia divisar a entrada e saída de navios, ao mesmo tempo que lhe servia também de fonte de inspiração para os sonhos que alimentavam a sua fértil imaginação de menino. Mas do que ele gostava mesmo era de partir para alguma parte do Mundo, demandar outras terras, sentir o encanto, o fascínio e o cheiro de outros lugares; por isso, fechava os olhos e, nesse devaneio, sonhava como se estivesse a viajar. Queria ser um homem das “sete partidas” a exemplo de outras figuras conhecidas da nossa história.
José Azevedo