
Na sala, os primos conversavam. Acabados de chegar de Lisboa, estafados pela viagem, pelo calor e pela adrenalina do dia, “O que sabia bem era uma cervejinha!”.
A prima apressou-se (com a velocidade que as suas pernas doridas permitiam) a ir à cozinha e regressou com uma Sagres mini e uma taça de amendoins: “ Não podes beber de estômago vazio!”.
O primo sorriu e agarrou nos dois pitéus: “Uns pinotes caem sempre bem!”.
PINOTES. Palavra simples que, no contexto em questão, se referia aos amendoins, mas que de rompante a transportou no tempo, até à casa daqueles a quem sempre ouvia usar este termo.
E logo um assombro, um vazio, um abismo! E já as lágrimas a quererem rolar, porque o peito parece que dói, de tão apertado que fica.
Quando acaba o luto? Acabará algum dia?
Como é que se consegue ignorar as memórias imensas de uma infância, nem sempre radiosa, mas que junto de vocês foi sempre feliz?
Como é que se evita associar os eventos do calendário à vossa presença tão jovial (apesar dos já muitos anos que carregavam) que os tornavam sempre tão especiais (únicos, até)?
Como é que se pode esquecer uma parte de nós?
Acredito que, um dia, o luto vai acabar. No dia em que vos puder abraçar outra vez, mil beijos vos dar e ouvir, a um, a sonora e contagiante gargalhada e, ao outro, a terna expressão: “Nunca te esqueças de ser boa rapariga!”
Sandrapep