13.11.09


 


A fala é o acto ou faculdade de falar, de emitir sons, discurso, expressão ou comunicação. É uma capacidade pré-definida no nosso património genético, mas a sua expressão está condicionada por diversos factores, desde físicos até factores sócio-culturais. Nascemos com uma linguagem própria, emitimos sons, procuramos no outro a compreensão do nosso ser, nem sempre compreendida, tantas vezes ignorada ou despercebida. Ao longo do tempo, e através da nossa interacção com o mundo em redor, tornamo-nos capazes de compreender as palavras e de as imitar, criar frases, sermos donos da nossa fala. Compreendemos e somos compreendidos. Pelo menos no discurso, desde que lógico na lógica da maioria. A fala tem esse dom de revelar o significado das coisas, das coisas iguais para todos, porém sentidas de forma única por cada um de nós. Está intrinsecamente ligada ao pensamento, essa capacidade de dar significado, de racionalizar o mundo, de o absorver e transformar.


 

Quando uma criança nasce muda, nasce incapacitada de produzir discurso verbal, no entanto, não nasce sem capacidade de compreender o mundo, apenas fala-lhe de modo diferente. Também uma pessoa que fica muda, devido a alguma lesão, não perde a capacidade de se expressar. Todas estas pessoas incapacitadas de fala, criam uma forma de expressão própria, a linguagem gestual. Nós, na nossa maioria, confinados ao nosso mundo sem obstáculos, é que não temos a capacidade de os compreender, olhando com ar incrédulo os gestos rápidos. Nós que não tentamos perceber cada gesto, é que nos perdemos na comunicação.

Quantas vezes, a caminho da escola, no autocarro, presenciei estas conversas de rapazes e raparigas, adolescentes como eu, que com sons agudos e gestos ritmados, lá iam partilhando as suas histórias e aventuras, com uma expressão viva nos olhos, e um riso abafado pela garganta. Tamanha era a curiosidade de saber o que diziam entre eles, quais forasteiros, embora talvez partilhassem coisas da adolescência que eu soubesse tão bem! Mas mais do que os gestos, eram os seus rostos que me marcavam, tão expressivos, parecia que nem precisavam de falar, porque as suas expressões e emoções diziam tudo! Eram como eu, dentro do seu grupo, na sua normalidade, no seu dia-a-dia… Falavam-se com os olhos, expressavam-se e compreendiam-se…

 

E eu interrogo-me, quantos de nós, não mudos, com capacidade de falar e não nos falamos, escondidos nas nossas sombras, de costas voltadas para o mundo, mascarados. Silenciamo-nos perante injustiças, acobardamo-nos perante a vida, não damos voz às causas em que acreditamos, incapacitados de partilhar a nossa alma com medo do julgamento dos outros, incapacitados de rumar novos destinos com medo do infortúnio, abafando a voz dos nossos pensamentos e sonhos porque desistimos facilmente perante a adversidade, porque desacreditamos constantemente de nós próprios, porque não ousamos simplesmente viver… Se falar é exprimir, comunicar, então os mais incapacitados não serão aqueles que se aprisionam em si próprios, cegos do seu próprio ser e surdos ao chamamento dos outros, tornando-se simultaneamente mudos para consigo próprios e para com o mundo?

 

Cecília Pinto

 
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22.6.09


 



Tento conversar contigo... Dizer-te o que eu sinto, como eu me sinto... Que língua falo eu que tu não consegues entender? Sinto que as minhas palavras se perdem no espaço entre nós dois e não chegam a ti com o sentimento que têm…

 

Para mim, a comunicação entre o casal é fundamental e base para a cumplicidade necessária à vida em comum, à partilha dos sentimentos, pensamento, sonhos e pesadelos. Sem o entendimento/conhecimento do par, criam-se fossos emocionais onde as pontes começam a ficar escassas, até desaparecerem e o desentendimento e a falta de compreensão minam a relação, muitas vezes ditando o fim desta.

 

Desde quando deixámos de comunicar com o olhar, com um sorriso?

Desde quando começámos a deixar-nos para depois, até não mais importar o que queríamos partilhar?

 

Digo-te que as coisas não estão a correr bem. Reconheço que me tenhas ouvido, pois franziste a testa, mas não me escutaste pois continuas no mesmo caminho e a minha frase apenas chegou a ti como uma pedra da qual facilmente te desviaste... Não compreendeste: NÃO SOU MAIS FELIZ AO TEU LADO!!!

Como quem encontra um tronco grosso de uma árvore que impede a passagem, paraste e apenas disseste: “Mas porquê? Está tudo tão bem! Lá estás tu a ver só o lado mau da vida! Nós somos felizes!”

 

Pois... E como sempre, a vida vai continuando como queres... Não sei mais o que dizer para que compreendas o que me vai na alma... Penso que agora as palavras já não chegarão... Tenho que recorrer à acção...

Eu tentei que me ouvisses... Que me compreendesses... O que posso mais eu dizer para que me ouças?

 

Ana Lua

 
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16.6.09


 


A comunicação é a própria essência do ser humano. É através dela que os seres humanos trocam - ou não - as suas mensagens, afectando reciprocamente as suas vidas. O processo interpessoal da comunicação envolve formas verbais e não verbais de informação e ideias. Não se refere somente ao conteúdo mas também aos sentimentos e emoções que as pessoas podem transmitir numa mensagem.

A comunicação oral envolve diferentes formas de expressão: o tom de voz, a aceleração ou serenidade na colocação da voz, os seus diversos significados (linguagens verbais e não verbais) e são vários os aspectos que a constituem, sendo um deles, a mensagem que se pretende transmitir. Seja ela objectiva e explícita ou, pelo contrário, subjectiva e passível de ambiguidade.

 

Comunicar eficazmente pressupõe, sobretudo, saber falar e saber escutar. Por parte do emissor deve existir uma transmissão clara da mensagem, conhecimento do conteúdo a transmitir e domínio dos códigos utilizados (o idioma, por exemplo). No entanto, o emissor está em avaliação continua do receptor, devendo este ser o mais desprovido possível de elações e julgamentos de valor para que a mensagem transmitida tenha o mesmo significado de quando foi proferida e não seja adulterada, quer no seu contexto, quer no seu conteúdo. Saber escutar não significa aceitar tudo, nem ser passivo. A recepção, sendo activa, indica as mudanças de estratégia ao longo do processo. Da mesma forma que o emissor emite indicadores, os mesmos expressam a motivação do receptor e o seu interesse em que a comunicação se estabeleça com sucesso.

No processo comunicacional, a partir do momento em que a mensagem deixa de estar na posse do emissor, até que chega ao receptor, muitos são os factores que podem tornar-se barreiras à comunicação. O meio envolvente, as condições dos canais que funcionam como veículos da mensagem podem ser portadoras de ruído, dificultando ou impedindo a interpretação e compreensão da mensagem.

A interpretação pode ser um enorme obstáculo à comunicação. Podemos interpretar algo de forma diferente de quem o emitiu, assim como podemos ser interpretados de uma forma indesejada. O preconceito, por exemplo, funciona como ruído neste processo. As atitudes e reacções, aparentemente iguais, podem ser lidas de modo transversal, dependendo das circunstâncias e das pessoas envolvidas. Quantos mais receptores existirem, maior será a diferença notada. É necessário estabelecer regras, reunindo-se assim o mínimo de condições para que as pessoas se possam escutar e exprimir.

 

A comunicação deve ter como principio a aceitação do outro enquanto ser distinto e diferente, permitindo-nos colocar no seu lugar ao longo do processo. E, mesmo assim, nunca apreenderemos a totalidade da intenção e expressão do outro, uma vez que qualquer palavra ou acto dependerá de uma interpretação. Nossa ou de outra pessoa.

 

Isabel Ferreira e Alexandra Vaz

 

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12.6.09


 



Utiliza-se frequentemente o dicionário para decifrar o significado de uma palavra. Cada palavra poderá ter vários significados, dependendo de como e de onde aparece.

Existem os substantivos, os adjectivos, os verbos, ao dispor de cada um para proporcionar o entendimento e a compreensão possíveis.

Mas é com dificuldade que algumas palavras são explicadas através de outras palavras, em especial quando estas estão vazias de vivências, de desejos concretizados, de sonhos desfeitos, de risos espontâneos, de choros compulsivos.

As palavras serão úteis quando, de uma forma universal, assumem o formato das nossas intenções; são traiçoeiras quando, empregues aleatoriamente, apenas têm o intuito de nada transmitir.

As palavras, como chaves, têm o poder activar em nós sentimentos. Há palavras que nos fazem explodir de alegria; outras há que nos corroem de raiva. Há palavras que nos tranquilizam, que nos dão segurança; outras há que nos inquietam, que nos levam à loucura. Por palavras conseguimos expressar os nossos sentimentos, as nossas emoções, as nossas necessidades e desejos.

 

Para uns, ser bonito quer dizer ser possuidor de uma beleza imaculada, partilhada com os anjos celestiais; para outros, ser bonito é ser possuidor dum interior sem tradução ou equivalência em adjectivos.

Ser egoísta é uma característica que se adquiriu para facilitar a sobrevivência, podem entender uns, enquanto para os restantes ser egoísta é agir de acordo a satisfazer as suas próprias necessidades, dando-lhes prioridade em relação às dos demais.

Para uns tantos e sem grande ponderação, desilusão significa o resultado de uma ilusão sem fundamento; porém, haverá pessoas para quem a desilusão significa dor por ter acreditado na beleza de alguém.

Como resposta à procura dum sinónimo da palavra “amor”, muitos utilizarão um vasto leque de outras palavras, fazendo assim uma pequena lista de vocábulos semelhantes; outros… outros nem sabem o que é um sinónimo, mas poderão descrever o amor de tal forma que o entendimento irá para lá da compreensão racional.

Assiste-se com leviandade à utilização de palavras com significados tão poderosos que poderão criar as maiores expectativas ou conduzir às maiores desilusões.

 

Tantas palavras constituem já este texto e, como o fio dum novelo, umas vão-se enrolando nas outras e, como um puzzle, umas vão-se encaixando nas outras.

 

Susana Cabral

 
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8.6.09


 


Toda a nossa vivência gravita em tons comunicacionais. Qualquer que seja a sua forma, deveria permitir-nos encontrar um mundo de possibilidades. Desde o relacionamento com o nosso mais íntimo fio condutor, até ao contacto mais complexo com o outro. Essa dualidade de comunicação (com o próprio e com os outros) deveria funcionar em sintonia. Mas por vezes assim não o é. Por vezes não comunicamos eficazmente connosco, ou fazemo-lo de forma enganosa caindo no sofrimento psíquico do não encontro e não reconhecimento de nós próprios.

O mesmo se passa quando comunicamos com os outros. Não numa dimensão interna, claro, mas o tecido do que nos constitui como significantes para os outros é sempre toldado pelo que exprimimos. Todos nós somos vítimas do que falamos, do que vestimos, de como nos mexemos, das escolhas que fazemos e de todos aqueles aparentes nadas que nos fazem comunicar. Para a pessoa com atraso mental comunicar é tão fundamental como para qualquer outra. É o veículo primário da sua identidade, dos seus desejos e necessidades. Contudo, ao contrário do que sucede com uma pessoa sem atraso mental, a expressão destas necessidades reveste-se de um carácter de dependência de terceiros muito mais relevante, conforme o seu grau.

 

De relembrar aqui que hoje em dia para se intervir com esta população, a ênfase do diagnóstico incide não no seu QI mas sim na extensão dos apoios que a pessoa necessita. Assim, uma pessoa com menor necessidade de apoios terá menor necessidade de os comunicar, enquanto o inverso também é directamente proporcional. E aqui reside um problema: geralmente, as pessoas com as maiores necessidades de apoio, são também as que apresentam os maiores deficits comunicacionais. Como então quebrar esta barreira? Nas situações em que a pessoa não possui linguagem verbal temos hoje em dia um conjunto de técnicas de comunicação alternativa e aumentativa, cada uma adaptada a cada caso específico. Estas técnicas podem revestir-se da maior simplicidade, como um conjunto de símbolos / pictogramas ordenados numa capa, ou de forma mais complexa como um software informático aplicado num PDA. Claro que a eficácia de utilização destas ferramentas depende sempre da vontade da pessoa com limitações comunicacionais.

 

Contudo, muitas vezes a comunicação não é eficaz apenas pela falta de meios ou de motivação da pessoa com atraso mental. Toda a gente reconhece que a comunicação é bilateral. Assim, o foco da incomunicação pode não depender de um interlocutor (pessoa com atraso mental) mas sim do seu suposto receptor. E aqui torna-se angustiante a sensação de impotência que consome alguém que quer ser ouvido, em primeiro lugar, e mais importante ainda, ser entendido. O que encontro no meu dia-a-dia enquanto técnico numa instituição de apoio a esta população é um mundo de escuta mas não de entendimento. Nós, cuidadores, muitas vezes caímos no erro inconsciente de atender apenas às necessidades que nos são evidentes, tais como uma muda de fraldas, um copo de água, uma folha de papel, etc.. Tal facto, embora sendo um gesto técnico correcto, inibe talvez o que de mais importante poderia acontecer entre dois indivíduos: a compreensão mútua, através de qualquer meio disponível, do que constitui cada um de nós como indivíduos únicos e diferenciados. Não existem fórmulas para tal. A minha sugestão é a seguinte: comuniquem com todas as pessoas de forma igual. Não em relação ao conteúdo, formulação, extensão, etc., mas sim empregando em cada “conversa” toda a vossa dedicação e empenho para que sejam compreendidos, aceites e reconhecidos e através deste gesto compreenderem, aceitarem e reconhecerem o outro… como únicos, mas iguais.

 

Rui Duarte

(psicólogo, convidado do MiL RAZõES...)

 
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4.6.09

 


 


Miticamente, a música nasceu com o apoio das musas, nas cordas da harpa de Apolo.

Para Pitágoras, a música foi forjada numa ferraria: os sons arrancados aos martelos de diferentes pesos terão, segundo o filósofo, formado a primeira escala. Há quem defenda que a música existiu sempre, sendo sempre, desde que existe o ar para propagar o som emitido. Penso que é impossível datar o seu aparecimento e origem, mas tenho como certo que a história da música está ligada à história do Homem. O Homem, andando, tocando alguns objectos descobriu que produzia sons que, mais ou menos intensos, mais ou menos agudos ou graves, podiam ser agradáveis. Descobria a sonoridade e nunca mais se separaria dela. E usa-a!

 

Em tempos idos, as declarações de guerra entre grupos, tribos ou povos, eram feitas com cantos acompanhados de expressivas manifestações corporais: pinturas e danças.

Hoje, através da música elevam-se sentimentos de amor à pátria. Todos os países e cada um por si têm o seu Hino Nacional.

 

A linguagem musical tem sido, por eleição principalmente dos mais jovens, um meio de contestar, de enaltecer, de afirmar atitudes, comportamentos e modos de vida.

A geração de 60 marcou um período na História com o movimento hippy: em grupos, desprendidos de bens materiais, com formas de vida simples mas sempre acompanhados de uma guitarra, tocavam e cantavam a paz e o amor.

Sendo expressivo, esse movimento está longe de ser o único: os negros jamaicanos inventaram o Reggae para denunciar uma sociedade de desigualdades e preconceitos; os textos melodiosamente ditos são a forma encontrada pelos rappers para contestarem o sistema; os clássicos encurtaram a distância entre o homem e os anjos celestiais.

 

A música é a expressão máxima da cultura dos povos; através dela chegam-nos tradições, sentimentos e regras. Cada um assimila e vive a música de acordo com a sua sensibilidade e identidade. Pode não se gostar do Fado mas qualquer português, em qualquer parte do mundo, identifica-o e enquadra-o numa determinada realidade - a nossa realidade. O mesmo fenómeno verifica-se com os africanos e as suas Mornas, quentes e dengosas, a sussurrar saudades, com os cowboys americanos galgando pradarias ao som do country, com os andinos vencendo montanhas com a ajuda da flauta.

 

O efeito da música é tão potente que se recorre a ela como forma de terapia. No filme Laranja Mecânica, do genial Kubrick, Alex só encontrava alguma paz quando ouvia música de Beethoven, por isso, quando uma das suas vítimas cola imagens de violência à música para o torturar, ele não aguenta e atira-se de uma janela.

Especialistas incentivam as mulheres grávidas a cantar para os seus bebés, como forma de comunicar com eles e baixar a ansiedade das futuras mães.

Estudos recentes revelam que os bebés prematuros melhoram o seu desenvolvimento com recurso à música. Também através da música, o ritmo alucinante das crianças pode ser controlado.

 

A música permite também comunicar connosco mesmos. As melodias recordam-nos experiências passadas, lembram-nos pessoas e trazem-nos aromas que marcaram fases da nossa vida. Se nos deixamos invadir e nos abandonamos, iniciamos viagens interiores que tanto podem terminar numa ténue recordação de tempos distantes, como num sonho fascinante.

 

Cidália Carvalho

 
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29.5.09


 

O diálogo entre pais e filhos reveste-se de singularidades que o tornam tão difícil quanto importante. Abundam os textos sobre as dificuldades e responsabilidades na perspectiva dos pais. Mais difícil se torna encontrar reflexões centradas no papel a desempenhar pelos filhos, como se as dificuldades e responsabilidades existissem apenas para com a geração seguinte. O peso excessivo que por vezes é colocado nos pais, só aparentemente os pune e responsabiliza em demasia. Na verdade, essa perspectiva unilateral torna-se de tal modo pesada, que leva a que muitos pais a interiorizem como inatingível.

A co-responsabilização no estabelecimento e manutenção do diálogo deve constar, à partida, das regras elementares que enformarão todo o relacionamento. Só assim se estabelecerá uma relação equilibrada e sadia, estruturante para o desenvolvimento responsável dos filhos e determinante para que o diálogo aconteça e se mantenha.

 

O desenvolvimento harmonioso e completo dos filhos é uma das responsabilidades mais importantes dos pais. A manutenção do diálogo é certamente uma das armas mais eficazes para se alcançar esse objectivo. Todos nós conhecemos exemplos de filhos emocionalmente afectados pela ausência de diálogo com os pais. Mas serão menos numerosos, ou menos relevantes, os casos de pais que sofrem pelo mesmo motivo? O equilíbrio emocional da família só se conseguirá, se ambas as partes assumirem as suas responsabilidades, empenhando-se para que o verdadeiro diálogo aconteça.

 

José Quelhas Lima

 
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26.5.09


 


Como ser social que é, o Homem possui a necessidade de comunicar, de colocar informação fora de si e de receber informação vinda do seu exterior. Essa troca é fundamental para o seu equilíbrio, para a sua saúde mental, para o seu crescimento e para a definição da sua individualidade.

 

Todos necessitamos de colocar fora de nós mesmos, noutra pessoa, aquilo que pensamos, aquilo que sentimos; necessitamos de comparar os pensamentos e sentimentos dos outros com os nossos e essa troca de informação é o estímulo para novos pensamentos e para a (re)experimentação de sentimentos. Os outros podem estar junto a nós, ou muito longe.

São diversas as formas como comunicamos com os outros, são vários os canais que, hoje em dia, utilizamos para esse fim. Podemos mexer o nosso corpo, tocar no outro, enviar palavras, mostrar imagens, etc.. Podemos comunicar através do ar, de objectos por nós criados, de máquinas criadas para transformar o longe em perto (e que por vezes transformam o perto em longe).

 

A evolução do Homem levou ao desenvolvimento da comunicação e esta, à evolução da Humanidade. O último século e meio tem sido extraordinário na mudança dos meios e das formas de comunicação. Em particular no último meio século, o Homem assistiu a muitas e grandes alterações, a uma velocidade crescente.

 

Mas se evitarmos o deslumbramento da evolução dos meios e conseguirmos olhar apenas para os conteúdos, para os conteúdos essenciais, verificaremos, certamente surpreendidos, que desde que há registos, na antiguidade como hoje, o Homem mantém dentro de si as mesmas necessidades, as mesmas preocupações, experimenta os mesmos sentimentos, as mesmas emoções, sofre pelas mesmas razões.

 

Bem pode Mercúrio vender as asas, as sandálias e a bolsa; bem pode comprar uma antena nova para o capacete, uns patins em linha, um laptop topo de gama – mas a essência das mensagens será sempre a mesma: cada um de nós, carregado de sentimentos, emoções e dramas, em confronto com os outros.

 

FCC

 
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24.5.09

 



 

O telefone toca uma, duas, três vezes. E quando atendemos, a única coisa que corta o longo silêncio é uma breve expiração que chega do outro lado. Apesar de todos os esforços, o silêncio mantêm-se e vai-nos roendo por dentro. Porque é que ninguém fala? Terá sido alguma coisa que eu disse? Terá sido alguma coisa que eu não disse? Terá sido a forma como eu disse alguma coisa? Todas estas questões e muitas mais vêm à cabeça enquanto o silêncio vai persistindo em se manter em linha, e nenhuma resposta parece surgir. Quando o telefone é desligado, uma sensação de alívio pelo desconforto ter terminado mistura-se com um pensamento: “Que mais poderia ter feito para ter desatado aquele silêncio?”.

 

-//-

 

A conversa vai animada, as palavras fluem como um rio, pergunta atrás de pergunta, resposta após resposta. Parece que foi ainda ontem que nos vimos pela última vez, tal o à vontade com que os temas vão desfiando. E de repente surge aquela pergunta que dávamos tudo para que não tivesse surgido: “Então os teus pais? Que é feito deles que nunca mais os vi?”. E um silêncio que parece não ter fim antecede a resposta: “Morreram no ano passado...”. Alonga-se o silêncio por mais um breve infinito, após o qual o desconforto é já demasiado para a conversa voltar a arrancar.    

 

-//-

 

Já lá vão sete anos de casamento e apesar de todos os bons momentos e de tudo de bom que o casamento trouxe, parece que a distância entre os dois vai crescendo inexoravelmente após cada discussão, após cada pergunta que fica sem resposta, após cada dúvida que não é desfeita. E a falta de respostas só vai aumentando as dúvidas, as inseguranças.

Como é que ele não percebe que ao não dar-se ao trabalho de responder às questões, ao não perder tempo a desfazer as dúvidas, ao simplesmente virar as costas e sair em silêncio, está apenas a condenar a relação ao fracasso?

Até onde pode o Amor resistir quando não há comunicação? Quando apenas um dos lados se esforça por esclarecer e conversar e falar sobre o que se sente?

 

-//-

 

Estes três pequenos textos têm apenas o intuito de ilustrar alguns dos efeitos que o silêncio pode ter em cada um de nós, lembrando assim que, por vezes, o silêncio tem tanta importância como a falta dele.

 

Alexandre Teixeira

 
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18.5.09


 


A ténue linha que separa a verdade da mentira é de tal forma fina que, muitas são as vezes em que se torna invisível, não se podendo evitar a promiscuidade entre as duas.

Desde muito cedo é-nos transmitido que é feio mentir. É com total embaraço e de rosto completamente ruborizado que ficamos quando uma das nossas crianças profere, diante de todos, a verdade, alto e bom som: “- É tão feio!” ou “- Não gosto.”.

Com um sorriso manhoso ouvimos os comentários feitos, entre dentes, que classificam a reacção da criança como uma falta de educação e é com pena que vemos que com facilidade as pessoas olvidam o estado puro de um ser humano.

 

A verdade é que a “educação” vai retirando a inocência e amarfanhando as resposta espontâneas e verdadeiras.

Em nosso redor e à medida que “crescemos” somos cercados com um arame farpado que nos limita e que acaba por nos ensinar como e quando devemos mentir.

A educação não nos permitir ferir a sensibilidade dos outros e, de repente, vemo-nos a agradecer, com um ar de eterna gratidão, um conjunto de louça verdadeiramente pavoroso que para nada serve. Escondemo-lo em caixotes, juntamente com outras “mentiras” que deixamos guardadas na garagem, não vá o diabo tecê-las ao sermos confrontados com o seu paradeiro.

A educação, as normas de convivência, são as prefeitas desculpas para as mentiras que diariamente vamos dizendo, de tal forma que até já não nos damos conta. Foi decidido que estas seriam as mentirinhas piedosas e essas de nada tem de errado, afinal é para o bem comum.

 

Não podemos destruir a auto-estima de ninguém, mesmo quando somos confrontados com o pior dos dilemas. Perante a questão de alguém que se encontra verdadeiramente nas nuvens com o seu novo vestido, “- Não estou fabulosa?”, o que fazemos? Deixamo-la ir e apresentar-se em público a parecer um verdadeiro desenho animado ou, por outro lado, arruinamos logo ali a sua ilusão com a tentativa de a fazer mudar de roupa?

Podem responder que existem formas de contornar estas  situações, o que peço é que, por favor, me ensinem porque desconheço...

Muitas vezes, dizer a verdade significa magoar desnecessariamente... e essa sim, é uma verdade.

Mas onde fica o limite entre a “piedade” e a mentira pura e dura? Vamos sendo “enformados” na sociedade, de tal forma que de repente ficamos impedidos de dizer o que realmente sentimos e pensamos, e de expressar as opiniões que acabamos por guardar só para não magoar, para não ser mal-educados, ou não ser detentores de ideias “esquisitas”.

 

E sem sequer reflectir sobre isso, vamos cada vez mais respondendo, agindo, de acordo com o que nos é solicitado e com aquilo que esperam de nós.

Seria completamente descabido dizer a alguém que o seu cheiro é de tal forma mau que nos impede de respirar, ou dizer a alguém que só tem dores de dentes porque simplesmente tem uma higiene oral muito, mas muito, duvidosa. Em vez disso, dizemos com um ar muito sereno que hoje não nos sentimos muito bem e tentamos esconder as náuseas que sentimos. Ou ainda, com o ar mais profissional do mundo, dizemos à pessoa que tem de começar a escovar os dentes de uma forma “diferente” porque a que está a utilizar não resulta para o “tipo” de dentes que tem.

Ficamos “proibidos” de dizer aquilo que às vezes temos vontade, porque não encaixa no perfil daquele que se orgulha de ter uma boa educação e vemo-nos obrigados a mentir sem qualquer peso na consciência, ou penalidade, porque afinal só estamos a fazer aquilo que é correcto para não ferir a sensibilidade de ninguém e não sermos marginalizados.

E assim vamos vivendo, muitas vezes no limiar da verdade e da mentira, como as regras da mentirinha piedosa nos permitem.

 

Susana Cabral

 
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14.5.09

 


 


Aprendemos que para haver comunicação é necessário existir um emissor - o que emite a mensagem, e um receptor - o que recebe essa mensagem. Sendo estes dois elementos necessários, não são contudo, bastantes.

O homem é um ser social. Interage com os outros homens e comunica-se de diferentes maneiras. São várias as formas de se comunicar não sendo, por isso mesmo, importante o modo mas, isso sim, que a comunicação se processe com eficácia.

 

Se a mensagem enviada não for recebida em boas condições, se não estiver contextualizada ou emitida numa linguagem perceptível pelo receptor, então não há comunicação - pior, há desentendimento. Por vezes, uma má comunicação atinge contornos graves, perdas irreparáveis, ou simples constrangimentos difíceis de desembrulhar.

 

Se o receptor entende, ou sente, a mensagem de forma diferente do seu criador, gera-se uma situação de “mal entendido”, ou “mal emitido” caso se tenha dito, gesticulado ou escrito, algo que não queríamos transmitir. Muitas vezes, desculpas e explicações não são suficientes para nos recolocarmos num relacionamento que se quer são, sem reticências e sem mágoas.

A situação agrava-se se uma e outra parte acham “coisas” acerca do que se disse: “eu acho que o querias dizer, era...”. A intenção era dizer mas não disse?.... Uma comunicação sincera e aberta não pode ser um processo de intenções. Deve dizer-se exactamente o que se quer dizer, e fazê-lo na exacta medida e de forma clara.

 

Comunicar é muito mais do que uma necessidade básica. Quando comemos estamos a satisfazer a necessidade básica de nos alimentarmos mas também experimentamos prazeres e sensações de agrado à vista ao tacto e ao gosto. Comunicar, é um processo semelhante, é necessário e é bom. Uma boa conversa pode funcionar como uma boa terapia e as alegrias partilhadas são alegrias dobradas.

 

A comunicação no amor é tão importante que, o início de um relacionamento está muitas vezes aí, na facilidade com que comunicam e na vontade com que o fazem. A falta de comunicação dita, quase sempre, o seu fim. 

Vi há dias, num filme, uma mulher explicar ao seu marido a razão da sua infidelidade. Ela acusava-o de não saber comunicar. A falta de comunicação afastou-os e ela tinha conhecido uma pessoa que a ouvia, que lhe falava, compreendiam-se. No entendimento dela, desta proximidade assente na comunicação, tinha nascido o amor.

 

Os gestores ou os indivíduos com autoridade para contratar, exigem capacidade de comunicar no perfil dos candidatos. Há uma década atrás, esta característica, nem constava na lista de competências dos candidatos; agora lidera a tabela, adiantando-se mesma à capacidade de executar e dominar estratégias e aos conhecimentos profundos em gestão.

 

Os meios de comunicação evoluíram e diversificaram-se, potenciando a aproximação ao outro mas, será esse o resultado prático dessa evolução? 

Não estarão, à medida que os meios evoluem, as relações humanas a caminhar em sentido contrário, arrastando os indivíduos para estados de solidão que, mais não fazem do que aumentar a dor?

 

Cidália Carvalho

 
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