Foto: New York – Melissa Mahon
Se o silêncio não é não fazer barulho, existem momentos da vida que o não fazer nada é por demais barulhento, turbulento e incómodo. Há quem adore o silêncio e faça disso o alfa e o ómega para poder pensar, contudo, para outros, ele é condição fundamental para poder tomar decisões.
Falando na primeira pessoa, diria que gosto do silêncio pontualmente e pouco dado a vazios de sons e de alma. No balanço do ruído e da sua ausência, prefiro, de longe, o barulho da vida, do trabalho, do lazer, do movimento, do quotidiano das cidades e do campo. Sou pouco dado a grandes refúgios e retiros.
Às vezes os silêncios metem medo por nada dizerem, por serem ausência de vida. Gosto de sentir o silêncio dos templos por ser melhor para refletir e comunicar comigo próprio. Gosto do silêncio dos gabinetes para ouvir melhor os cérebros de quem decide e, sobretudo, de justificarem o porquê da decisão. Gosto do silêncio dos estádios porque simbolizam momentos decisivos para o que está acontecer. De resto, interpreto os outros silêncios como sinais de vida, de trabalho, de alegria, de comunhão, de fraternidade, de solidariedade. Por isso, por vezes, estes momentos que até podem primar pela ausência de barulhos, podem ser ensurdecedores pelo que transmitem, pelo que significam, pelo que predizem. Desta forma, prefiro o dia à noite, o verão ao inverno, o trabalho ao descanso, a companhia à solidão, etc. É que tenho muito tempo para estar em silêncio e não tenho pressa!
Fernando Lima