Foto: Woman Reading A Book – Petr Kratochvil
Falam de mudança. Dizem que se não estou bem assim, devo mudar. Mas mudar para onde? Para um outro estado no qual me sinta melhor. Mudar como? Terei de ser eu a descobrir como mudar. Mudar o quê? Tudo aquilo que eu queira e possa mudar para que a minha vida fique diferente.
E eu concordo. Se não estou bem assim, se não me sinto bem, se morro quando quero viver, terei de mudar, terei de estar bem, de me sentir bem. Entendo e concordo até ao fundo da minha razão. Mas como mudo? Como posso eu mudar? O fundo do meu coração não entende isto. Ele entende que estou mal, mas não sabe como mudar.
Acho que não posso mudar; não tenho poder para isso. É isso! Para mudar eu necessito de poder, de um poder de mudança. Mas agora, aqui, nada posso. Como consigo arranjar poder? Onde está? Quem o dá? Como o procuro? Como o recebo? Como trabalho o poder para aquilo que quero?
Vamos lá, eu ainda não sei se quero. Logo, não sei o que quero. Bem, querer, quero que toda esta gente se lixe, que vão para Marte, que desapareçam, que tenham aquilo que merecem e me deixem em paz. Isso, eu quero. Mas a mudança não deve ser isso. Então, para mudar é necessário querer e poder. E eu não quero, nem posso. Logo, nada feito.
E para quê mudar? As pessoas serão diferentes? A minha família passará a visitar-me? Os meus colegas de trabalho serão mais solidários e dialogantes? O meu chefe deixará de ser um ditadorzinho? Os meus vizinhos serão mais simpáticos e colaborantes? Não acredito. O que os faria mudar? Também não devem querer, nem devem ter poder. Estamos todos no mesmo barco, todos perdidos. Isso de querer e de poder é só para privilegiados.
Não me venham falar de mudança! Para isso tragam, numa mão o poder e na outra, o manual de instruções. Assim, sim, estarão a ajudar e eu saberei o que fazer. Assim já quererei e já poderei, já mudarei. Mas isso eles não fazem. Se calhar não podem…
Fernando Couto