Foto: Girl – Mihai Paraschiv
Um dia (que dia!) senti-me estranhamente triste e angustiada (penso que todos nós temos dias em que a tristeza nos visita, sem percebermos muito bem o que se está a passar), a angústia incomodava, empurrava-me para trás, não me deixava seguir com os passos no caminho que eu pretendia. Pensei em pegar em mim ao colo. Foi isso que fiz. Peguei em mim ao colo e pedi ajuda, na “esperança” que a pessoa a quem pensei pedir ajuda me ajudasse mesmo, e na “esperança” que no outro dia conseguisse seguir com os meus passos para o caminho que pretendia. A nortear todo este processo o que existia: anedonia, astenia… enfim um conjunto de “estranhos” (sim, para mim eram estranhos) sintomas. Mas, quando pegava em mim ao colo (sim, porque peguei várias vezes), existia um movimento que me dizia que valia a pena. Era difícil, muito difícil! Sentia o meu peso nos meus braços, não tinha muito sucesso em adormecer-me nem a alimentar-me, mas eu sentia que valia a pena insistir, porque o movimento que eu fazia nestas tarefas era acompanhado de “qualquer coisa viva”. Eu penso que era um sentimento de esperança, não sei.
Pouco a pouco deixei de pegar em mim ao colo e passei a andar sozinha. Bem sei que foi um processo lento, bem sei que com pequenos avanços, bem sei que de vez em quando tinha de voltar a pegar em mim ao colo, mas aquele sentimento (o de esperança, penso eu) nunca me abandonou.
A vida deve (tem?) de ser vivida com este sentimento e, nos momentos mais difíceis, ele deve (tem?) de estar presente. Comigo resultou. Não sei se um dia voltará a resultar, mas tenho esperança.
Ermelinda Macedo