Foto: Money – Michal Jarmoluk
Desde pequenina que tentam ensinar-me a jogar xadrez. Não sei porquê, nunca consegui ter grandes resultados… Quer dizer, sei: não me interesso pelo jogo, esse jogo. Talvez por ser um jogo de calculismo, estratégia, frieza, análise do pensamento do outro para conseguir prever o que este irá fazer.
No entanto, na vida é isso que faço, tenho que fazer. Se não fizesse, como conseguiria pagar os impostos? Sim, tenho que prever todas as despesas, o meu adversário são as despesas. Tenho que pensar num adversário para conseguir focar os meus esforços de modo a vencer o dia-a-dia.
Ao longo dos anos fui-me apercebendo que as pessoas não são adversários, embora algumas tentem. São apenas peões que vão surgindo e só têm força e impacto nas nossas vidas se deixarmos. Claro que quem chega com boas intenções pode causar o impacto que pretende mas, infelizmente, a maioria chega para tirar o melhor proveito para si e vê-nos como meros peões para a sua própria vitória, alguns até como os verdadeiros adversários.
Houve tempos que também pensei assim… Mas, tal como com o xadrez, não sei jogar esse tipo de jogo com pessoas. Gosto mais de ser quente e natural, sem estratégia de relacionamento, apenas eu própria. Se fosse um jogo de xadrez, em vez de “Xeque-mate!” diria “Churrasco?”.
Mas o que não são pessoas sim, parece uma força do oculto que ninguém vê… Com essa sim, já consigo ser calculista e tento ser gélida para não deixar que me faça xeque-mate. Mas isso custa-me imenso… Admiro quem consegue ser indiferente ao bem-estar só porque todas as criaturas do mundo merecem. Faz-me confusão estar bastante bem na vida, de bem com tudo, e lá vem uma despesa extra por um azar qualquer e ainda nos cobram imposto por esse azar. Resta-me aprender a jogar esse tipo de jogo…
Sónia Abrantes