Estamos numa daquelas épocas, tendo em conta o nosso referencial ocidental, em que as dúvidas são muitas, os paradigmas não são sólidos, ameaçando desmoronar-se. É costume, penso, recorrer-se ao fim do Império Romano do Ocidente ou, talvez menos, ao final do século XVIII, quando nos queremos referir, exemplificando, ao final de uma época, à refundação de modos de vida. Estamos a falar de eras em que houve dissolução de costumes, exageros, portanto de abandalhamento, bandalheira.
Sintetizando: quando se vive, dizendo-o em duas palavras, uma crise valores.
Estamos aqui a falar de valores éticos, estéticos, religiosos, morais, políticos, através dos quais as pessoas, individualmente e em sociedade, fazem escolhas, opções.
Perante os factos da vida e para tomarmos opções, usamos critérios, uma hierarquia de valores que nos permitem, na nossa circunstância, tomar decisões.
Pois é, aqui vem a rasteira que não me é possível evitar. Ela faz-me tropeçar na duplicidade de significados dos “valores”, pois a eles também as pessoas se referem quando são imobiliários, mobiliários, transacionáveis em Bolsa.
Será que, no limite, a questão dos valores, hoje por hoje, tende a resumir-se ao recheio da bolsa?
Jorge Saraiva