Foto: Man - Silvia & Frank
No momento em que os seus olhos, escondidos nos óculos “fundo de garrafa”, se cruzaram com o verde dos olhos dele, ela sorriu e corou.
Quando, dias depois, entraram no mesmo elevador, cada um soube onde poderia encontrar o outro. Mas não se procuraram. A vida, sozinha, faria com que os seus caminhos coincidissem de novo.
Os olhos dele procuraram mais vezes o sorriso dela, naquela multidão que se atropelava, a cada manhã, no percurso até ao trabalho. O primeiro “Olá!” mostrou que os olhos verde-água tinham voz de Tritão. E o convite para um café fê-la tremer – primeiro por dentro, e depois nas mãos.
No seu coração de menina, sempre sonhou com um homem assim: loiro e de olhos claros, como nos filmes e nas histórias de encantar. Sempre idealizou um príncipe a entrar no seu castelo. E estava a chegar o momento em que ele se tornava real.
No dia e hora combinados, ali estavam, cada um com as suas motivações e expectativas. Ela, de coração num trampolim e bochechas que só podiam sorrir. Ele nos seus olhos verdes, de conquistar qualquer mulher.
Ela que (aos olhos dele) de bonito tinha apenas o nome – Maria – fez cair por terra, num piscar de olhos, a aposta que o levara àquele café.
Ele estava agora rendido à voz doce de Maria. Hipnotizado pelo canto de sereia do relato das suas aventuras, em viagens pelo mundo fora.
Só que ela, mais do que viajar por países, tinha feito muitos percursos interiores, conhecia bem o seu coração… e percebeu, no primeiro momento, que o trampolim se deteve, ao suspeitar a aproximação de um homem vazio.
Foi a primeira vez que uns olhos bonitos levaram os dela a tomar café. Foi a primeira vez que os olhos dele se deixaram cativar por um brilho que não estava visível a olho nu.
Maria abriu um precedente na vida destes olhos, que viram que há muito mais beleza do que aquela que eles podiam alcançar.
O seu sonho de menina morreu naquele dia. Mas fez nascer a certeza de que, o azul celeste do seu coração, não seria nublado por uma qualquer cor de olhos bonitos.
HTR