Foto: Mafalda - Quino
Eu confio
Tu confias
Ele confia
Nós confiamos
Vós confiais
Eles confiam.
Que bando de ingénuos, não é?
Mafalda a Contestatária; Quino
Será? É de ingenuidade que se trata quando falamos em confiança?
Aparentemente sim, confiança e ingenuidade são duas palavras juntas e casam bem. Mas, sendo a confiança um sentimento de quem acredita, em algo ou alguém, e a ingenuidade uma qualidade ligada à falta de conhecimento, como é que este sentimento e esta caraterística caminham de mãos dadas? Acreditar cegamente que todas as pessoas têm um bom carater e confiarmo-nos a elas, é ser ingénuo. E, no entanto, que outra forma existe de ganharmos confiança, a nossa e a dos outros, se não falarmos uma linguagem de bondade, uma linguagem de ingenuidade?
Às vezes, muitas vezes, falarmos a linguagem do coração faz de nós ingénuos, se calhar sem impacto no outro, ou existindo, sem o efeito esperado e desejado porque não é garantido que quem ouve, ouve também com o coração, mas torna-nos confiáveis.
A ingenuidade é uma virtude que não dura mas, em nós, ela está em estado permanente porque, se descobrimos num momento o que desconhecíamos até então, estamos simultaneamente a ser ingénuos relativamente a outras novas e futuras situações. E continuamos confiando no Outro, no desconhecido, em nós e no nosso saber. Ingenuamente, acreditamos que o amanhã se não for melhor há de ser igual a hoje, e continuamos confiando.
Assim emparelhadas, confiança e ingenuidade, não nos deixarão demasiados permeáveis, desprotegidos e à mercê de forças alheias que nem sempre são de boa vontade? Para nossa defesa, não sejamos ingénuos, nada nem ninguém merece uma confiança ilimitada. É da sabedoria popular que todos temos um preço; encontrado esse preço a tentação é grande e destrói-se a confiança. Confiança perdida dificilmente é recuperada e, de tantas vezes se perder, passamos a conjugar o verbo pela negativa:
Eu não confio
Tu não confias
Ele não confia…
Cidália Carvalho