Foto: Woman - Claudioscot
Acordo quando os primeiros raios de sol espreitam pela janela. Dou por mim a pensar no que me espera para este dia. Seria para mim um privilégio que todas as manhãs chegasse um pequeno passarinho ao meu ouvido e me contasse o que iria acontecer de significante no dia de hoje, para que estivesse preparada para tudo e todos. Mas não vem. O que vem é o silêncio, às vezes confundido com incerteza do que se passa, do que se pensa, do que se faz na nossa ausência. Este silêncio é como uma arma. Contra ele ninguém discute sem perder.
Quem me dera conseguir ficar em silêncio sempre que tenho tanta e tanta coisa para dizer... Falar de mais cria pontas soltas que retornam sempre ao nosso caminho com más intenções. Mais vale nada saber, então, pois assim não falamos. No fundo, o silêncio do que não dizemos e não ouvimos é como um tesouro com o qual devemos saber lidar, devemos saber o que fazer com ele.
Estar em silêncio não é só estar calado. É não falar apenas quando não é preciso, gerir essas ocasiões. É saber escutar, enquanto a nossa mente por vezes grita. Se paramos para escutar, é também um tesouro conseguir respeitar o silêncio dos outros.
Deito-me, sedenta do silêncio da noite.
Sónia Abrantes