Foto: Oude Klok – X Posid
Temos tempo, o Sol nasce todos os dias, apesar de ser a Terra, coitada, que tem que dar as suas voltas para que isso aconteça. Atrás de tempo, tempo vem.
Pois, mas tempo é dinheiro, diz o banqueiro que o emprestou e que gosta, esfregando as ávidas mãos, que o tempo passe, que os juros sejam cobrados, rogando para que as imparidades não lhe caiam nos braços, na hora das contas.
Ora, ora! Não há dor que o tempo cure, ele a tudo dá remédio. O que agora se apresenta como se fosse o fim do mundo, tempo passado e vai ficar só uma moedeirazinha, uma ralação que amofina e que deixa a pairar umas más memórias. É a vida.
Então, a memória é que será a verdadeira referenciadora do tempo, é que nos traz o quando, o como, o onde. Aquilo de que nos esquecemos, foi-se, mas o que lembramos, está. Não sendo o tempo elástico, a memória pode esticar um momento marcante, instante que seja, para toda a vida - a minha eternidade – ou encolher o que esquecemos até à nulidade.
Vai sendo tempo de pensar em não abusar da paciência do vosso tempo, ele é escasso, não é? Mesmo que infindável, pois um momento sucede a outro, e a outro e ainda mais outro: nós, durante a maior parte das nossas vidas, podemos ser donos de nós próprios, tomar decisões, fazer opções conscientes no momento, mas não conseguimos fazer parar ou acelerar o tempo.
Será um trabalho interminável, onde talvez a luta, a ambição e a esperança sejam a de conseguirmos passar pelo tempo, deixando marcas, em vez de aceitarmos apenas que o tempo passe por nós.
É que quando começamos a dizer muitas vezes “amanhã faço isto”, aumenta a probabilidade de amanhã voltar a dizer o mesmo. E aí, o tempo assenhora-se de nós.
Jorge Saraiva