Foto: Act - Kai Kalhh
Lembram-se daquela história do tio Hans, que todas as nossas avós nos contaram em pequeninos? Sim, aquela do rei vaidoso que foi na conversa de dois vigaristas e deu um dinheirão por um fato invisível. Sim, esse. Bem, na verdade, como sabem, o fato não era invisível, que isso é coisa que, até hoje, ainda ninguém inventou. Nem sequer transparente, nada disso – o tecido de que era feito era, apenas... inexistente. Uma patranha, portanto. Uma tanga, uma treta muito bem urdida, para, não só extorquir dinheiro ao tal do rei vaidosão, mas também fazê-lo cair no ridículo, levando ao extremo a sua sede de excelência ímpar, de elegância, e de inteligência – claro, segundo ele, acima de todos os olhares e de todos os conceitos.
Mas o maior problema desse mui nobre senhor (que eu sempre imaginei gordo e com dentes amarelos) nem era a vaidade, porque essa é natural e abnóxia. O grande problema era a sua doentia necessidade de adulação, de endeusamento. E, claro, a sua leviandade de espírito, pronto a ser mais facilmente seduzido pela mentira e hipocrisia que pela verdade e honestidade. Não havia nele um pingo de respeito pelos seus súbditos – nobres ou plebeus, ministros que o assistiam, ou gentalha incógnita que o sustentava.
Reza a história antiga que o desgraçado pagou caro, pelo seu deslumbramento e fé no invisível escudo que, afinal, o não protegeria da inteligência dos hipócritas e da inocência do medo: bastou uma criança. Bastou uma criança esfarrapada e ranhosa, ingénua e honesta, para deitar por terra todo o embuste e fazer desmoronar o dique de silêncio podre que segurava os risinhos dissimulados e as palavras de escárnio.
“O rei vai nu!” – quem dera que fosse sempre assim tão fácil desmascarar a mentira e por a nu a verdadeira pele da verdade. Quem dera que o tecido da dúvida não fosse uma teia intricada e invisível... mas uma malha apenas transparente.
À cautela... vista-se sempre à verdade roupa de dentro bem bonita. E limpinha.
Teresa Teixeira