Foto: Andar a pé numa praia labirinto - Andrew Schmidt
Estava num labirinto. Só via encruzilhadas, caminhos cruzados sem saída. Percorreu todos os caminhos e voltou sempre a um onde já estivera, voltou ao anterior, voltou ao primeiro. Andou em todos e em cada um deles mais do que uma vez, tentou andar em todos de uma só vez e depois já não tentou.
O desespero sempre do mesmo chão, a angústia sempre das mesmas paredes, o terror nunca da saída. E desistiu. Deixou-se ficar preso no labririnto e num flash chegou a libertação, o alívio, a paz e depois mais nada.
Lentamente, a rebolar pelo chão veio um novelo. Seria de lã ou de linha, não sabia bem. Nunca pensou que veria um, nunca pensou que chegasse um ali. Recebeu-o e levou-o consigo pela mão, pelo caminho. O novelo mostrou-lhe o chão e as paredes, aqueceu-lhe a mão e o corpo e o coração. Já teria passado por ali, mas talvez não naquela direção.
O novelo era de lã escura e grossa. Enquanto o enrolava apercebia-se de que era de muitas cores. Cores escuras que se misturavam numa bolinha de fios cruzados e entrelaçados. O fio começou a ficar mais esticado, começou a puxar pelas suas mãos. As cores eram mais claras agora, as mãos estavam mais claras também. As paredes eram brancas e o chão de areia fina e brilhante.
Começou a ver os fios do novelo uns por cima dos outros, as suas mãos estavam inteiras, tinham dedos e os seus pés andavam firmes e rápidos num só sentido. Sentiu os olhos a fecharem-se, uma aragem fresca na cara e quando o fio acabou estava cá fora!
Abriu os olhos e tinha o novelo nas mãos. O novelo pulsava devagar e as cores corriam pelos fios num fluxo constante. Viu uma pessoa à sua frente. Estendeu-lhe as mãos abertas e entregou-lhe o novelo.
- Obrigada! Como soubeste que estava ali?
- Não soube. Ouvi o teu grito.
- Eu não gritei.
- Mas eu ouvi!
Patrícia Leitão