Foto: Argument – Ryan McGuire
Segundo a tradição oriental, a garganta representa o Centro da Verdade e quem fala sempre a verdade acaba por desenvolver a capacidade de materializar aquilo que diz.
Porém, por medo, a maior parte de nós não é verdadeiro. Por alguma razão, geralmente é o MEDO, entramos num jogo deveras interessante para os psicólogos e sociólogos e outros que tais, mas profundamente doentio para o self. O jogo de que falo é o Jogo da Manipulação. As regras parecem simples e a piada do jogo é que os trunfos de que dispomos têm que ser jogados com subtileza. No fundo todos sabemos que é um jogo, quais são os trunfos e esquemas de cada um, mas fazer de conta que não sabemos e que não jogamos torna tudo mais grupal. Então eis as regras:
. Criticar: esta parte do jogo é a que consiste em desfazer os outros em mil pedaços. Falar mal, acusar, manipular parece a técnica perfeita para quem se sente inferior aos outros. Parece resultar porque enquanto desviamos a atenção de todas as outras pessoas para aquele que estamos a criticar, ninguém repara nos nossos defeitos. O facto de aqueles que acusamos serem o espelho dos nossos problemas não interessa para nada. O que interessa é jogar o jogo e quanto mais perfeito se é.
. Mentir: é muito mais fácil gostar de nós segundo aquilo que desejamos e esconder dos outros o que não é interessante. É como um pequeno teatro no qual somos simultaneamente realizadores, atores, assistentes de produção, etc.. Cansativo, mas vale a pena. Se os outros acharem que somos perfeitos, então é porque somos. Ah, e se não estiver a resultar totalmente, podemos sempre usar outra estratégia do jogo – culpar o outro. Pode ser a mãe, o pai, a professora primária, o vizinho. Qualquer um, desde que não tenhamos que ser os responsáveis pelas nossas escolhas.
. Discutir: esta regra é bastante usada. Parece estar entre as favoritas do Jogo. Consiste em espalhar aos quatro ventos o nosso humor cáustico. E, de preferência, aproveitar todas as oportunidades para atacar uma pessoa ou situação. Lá porque se perde imensa energia e tempo com este procedimento, não interessa. O importante é que discutir é uma razão para a pessoa se sentir viva e disfarça muito bem o quanto estamos zangados connosco. Portanto vale ou não o esforço?
. Amuar: é uma regra que é prima da agressividade. A diferença é que é uma agressividade disfarçada, perfeita para quem quer ser perfeito! Afinal é muito mais fácil ficar à espera que alguém adivinhe o que nos perturba. E se ninguém adivinhar, o que é incrível, depois de todos os sinais que achamos que deixamos, então isolámo-nos, calamo-nos, a ver se resulta. Sabotar a necessidade de intimidade é altamente eficaz no jogo da manipulação. Que o digam as crianças.
Estas são as principais Regras do Jogo.
E que atire a primeira pedra aquele que nunca o jogou. Pois, o problema é que é um Jogo Doente.
Por hoje, só por Hoje, esteja atento a si mesmo. Sinta-se. E pare cada vez que sentir que vai Jogar. Se quer um Jogo mais interessante, eu falo de outro. Até tem menos regras. Tem só uma regra, apesar de ser a mais difícil. Aqui vai:
. SEJA VERDADEIRO CONSIGO!
Sara Almeida