Foto: Yellow Rose Flower – Kevin Casper
No princípio era o Verbo.
Penso, logo existo. Existo logo penso.
Eu penso assim, tu pensas assado, ela de outra maneira, aqueloutro de forma parecida, mais outra pensa quase que o oposto.
Há tempo de pensar e há tempo de agir. Como é que se fazem as sínteses desta miríade de pensamentos e posições?
Pode ser a família, o clã, a aldeia, a sociedade em geral, o estado, mesmo as relações entre os estados. Pode ser, tão só, o condomínio do prédio onde habito.
No âmbito de todas estas entidades, organizações, é preciso, para que existam, que sejam saudáveis, se mantenham e evoluam, tomar decisões, atitudes, fazer coisas. Mandá-las fazer. Quem é que pode mandar fazer? Quem tem autoridade para tal? Quem tem o poder, o mandato para o exercer. Se tal figura não existir, as discussões serão intermináveis, não haverá decisões ou ninguém as cumprirá, não se faz o que é preciso ser feito. É o marasmo, a estagnação; será o risco de, mais tarde do que cedo, provavelmente de forma violenta, o poder ser tomado, espezinhando tudo à volta.
Há, portanto, muitas formas de pensar, de ver o mundo, uma multiplicidade de caminhos que podem ser seguidos. Isto é basilar, nunca pode ser esquecido, faz parte da individualidade de cada um de nós. Há, em simultâneo, a necessidade imperiosa (palavra adequada à circunstância) da existência da autoridade.
A história da vida organizada do Homem demonstra que não há qualquer incompatibilidade aqui. O poder, a autoridade, não são eternos, não podem ser absolutos, não são universais. Tal tem vindo a ser demonstrado e refinado há milénios de diversas maneiras, nas diversas culturas, por diversos caminhos.
No mundo ideal o poder e o contrapoder alimentam-se mutuamente. A autoridade vai buscar à oposição ideias diferentes, frescas, complementos fundamentais na maneira de olhar para a realidade. A oposição não existe para anular o poder, sim para o controlar, melhorando-o, impedindo a sua corrupção, para que, quando o substituir, melhor o possa exercer. A autoridade estará alicerçada na vontade da maioria, por tempo limitado, defendendo-a, mas não anulando, nem ignorando quem pensa de maneira diferente.
Onde se lê a autoridade, o poder, deverá entender-se a sua pluralidade, a sua diversidade, complementaridade. Há o poder de estabelecer regras, de executar de acordo com essas regras, de julgar o cumprimento dessas regras.
E não, embora possa parecer, o poder, o contrapoder, a diversidade nas opiniões e na sua aplicação, não servem só para a política, a organização do estado. Lembremo-nos da moda, dos clubes, da(s) religião(ões), tudo baseado na aceitação do indivíduo e nas suas diferenças; na aceitação da sociedade e na bondade da sua organização.
Se todos gostássemos da mesma cor o que seria do amarelo?...
Jorge Saraiva