Lembro-me de que, quando apareceu o Harry Potter, não liguei nada à personagem, à história, aos livros, a nada. O fantástico e a magia nunca me atraíram e era só mais um entre muitos a causar furor e a mover legiões de fãs.
Até que um dia, não sei como nem porquê, se fez um clique e de repente passei a ver o Harry Potter de outra forma. Magia ou não, feitiço ou não, passei a olhar para aquele miúdo de outra maneira e para a história e restantes personagens de uma forma diferente.
De tal forma que fiz, com a minha irmã e um casal amigo, uma maratona de Harry Potter (um filme, às vezes dois, por fim de semana) para conseguirmos ver o último de todos no cinema. E conseguimos!
Não sei em que dia foi isso, nem em que hora, mas sei que houve um momento em que percebi que o Harry Potter era um rapaz diferente dos outros, com um destino também diferente e quase já traçado, que perdera os pais e se achava sozinho no mundo. Vivia com uma família que não gostava dele, porque ele era diferente e estranho. Ele achava-se sozinho contra o mundo. Ou o mundo sozinho contra ele!
Até que foi para a escola de magia. Aí fez dois amigos para a vida, e muitos outros, mas também despertou invejas e ressentimentos. Em cada livro, era obrigado a enfrentar o inimigo poderoso para se salvar ou salvar alguém. E saía sempre vitorioso. Em cada livro, cada vez que tinha de enfrentá-lo, Harry Potter achava-se sozinho, ele só, a lutar contra um poder maior que ele. A ter medo e a fraquejar. Mas de cada vez que isso acontecia, os amigos apareciam e ajudavam-no. Lutavam com ele, lado a lado. Arriscavam-se por ele, arriscavam-se com ele. E ele nunca estava sozinho. Nunca era só ele contra o medo e contra o mal. Era ele e todos os seus amigos.
O Harry Potter trata-se de enfrentar o medo. Não fugir. Ter medo, sim, fraquejar, também, mas arranjar coragem para o confrontar e o derrotar. O Harry Potter trata-se de ter amigos e nunca estar só, de os ter quando mais se precisa, de forma incondicional. O Harry Potter trata-se de coragem e amizade e quando eu percebi isso, aí sim, fez-se magia!
Magia é perceber que nunca estamos sós, nunca somos nós contra o mundo. Nunca é um contra tudo o resto. Há sempre alguém connosco, temos sempre alguém, mesmo que não vejamos ninguém, mesmo que achemos que não, nunca estamos sozinhos. Nunca.
Gosto do Harry Potter. Continuo a não ser fã da escrita nem da temática, mas passei a gostar desta personagem, da sua história, de todas as outras personagens e do imaginário que os livros encerram.
Passei a vê-lo de outra forma e ele ensinou-me que enfrentar o medo é algo que temos de fazer sozinhos, mas não de forma solitária. Enfrentar o medo exige a coragem de dar o passo em frente, sozinho, e a coragem de aceitar a ajuda dos outros, a ajuda dos amigos.
Patrícia Leitão