Foto: Seagull - 2905102
Quando dei por mim, todo o meu ser jorrava para o mundo um surto de emoções. A minha voz percorria tudo à minha volta, atravessava as paredes, penetrava a terra e enchia o céu de um tenebroso trovão. Tal como o pássaro que, de asas abertas, abraça o ar para levantar voo, eu cobria de braços estendidos o universo que me pertencia.
Subitamente tomo consciência do meu ato e fico espantada com a força do som que emana de dentro de mim. Não sei onde fui buscar tanto fôlego mas não é hora de parar. O estrago já está feito e ainda há muito para libertar. Conscientemente, ganho novo lanço, empenho o meu corpo na sua desencarceração e descubro um atordoante prazer em soltar-me até ao ponto mais alto.
Lentamente, vou perdendo altura e sinto-me a planar acima das minhas amarras. Deixo a minha alma varrer os últimos vestígios de ar. Desço devagar à terra onde o meu ser e o meu corpo se unem em sincronia.
Olho à minha volta, expressões de incompreensão questionam esta minha repentina forma de expressão.
Vazia e de joelhos ao chão, despeço-me em silêncio desta catarse que se evapora na minha exaustão.
Agora sim posso recomeçar.
ESM