13.8.14

 

Sempre me perguntei o que é que levará um jovem a entrar na delinquência. As causas e as explicações são já conhecidas, tudo à volta deles parece conduzi-los apenas para um caminho, mas ainda assim, o que os leva a entrar nele? Não terão eles a escolha de dizer que não, de recusar e tentar outro? Será assim tão fácil fazê-lo quanto se escreve ou quanto se fala?

E quando entram na delinquência tornam-se seres frios, insensíveis e sem qualquer compaixão pelos outros seres humanos? Será que se tornam indiferentes e alheios à dor que causam? Será que não têm arrependimentos ou crises de consciência?

Sempre que ouço notícias ou relatos de atos delinquentes, a primeira coisa que penso é “O que será que esta pessoa sentiu ao fazer isto?”. Quando estava a assaltar ou a bater ou a destruir e a vandalizar, será que isso lhe deu prazer? Sentiu-se imbatível e com o poder nas mãos? Será que depois quando vai para casa e se deita na cama pensa no que fez e se arrepende e sente um peso no coração? “Como fui capaz de fazer isto?” será uma pergunta que assalta a sua mente e a sua consciência conforme acabou de assaltar uma pessoa ou uma propriedade? Ou será que já nem consciência tem e tornou-se apenas uma máquina de fazer maldades e espalhar o medo?

O que me intriga na delinquência é isto, é esta mutação no ser humano. O que lhe dá origem e o que ela pode operar numa pessoa. Esta mutação torna-se ainda mais perigosa porque começa a ocorrer na idade jovem, no início de um percurso para a idade adulta, numa altura em que os jovens despertam para a vida conscientes de que agora eles já podem fazer, já podem ser e já podem acontecer. Esse já é que lhes dá o poder e a sensação de liberdade.

Uma vez disseram-me que, se um dia fosse assaltada, para olhar bem fundo nos olhos do assaltante, porque iria perceber que, provavelmente, ele estaria com mais medo do que eu. Será verdade? Será que ainda sentirão medo e culpa e arrependimento? Se assim é, nada estará perdido, pode ser um ponto de partida para a mudança. Ou será que a delinquência é como um fato de super-herói? Veste-se, assume-se uma nova identidade (ou o outro lado da pessoa) e faz-se tudo com toda a coragem e sem medo nenhum?

A delinquência passa a ser um crime muito maior quando deixa de haver espaço para a culpa, para o arrependimento ou para a compaixão pelo outro. Não havendo espaço para despir o fato, ele cola-se à pele e já nem o arrancando ele sai. Esta deformação é o que a delinquência tem de mais aterrador.

 

Patrícia Leitão

 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 06:00  Comentar

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