Foto: Man On The River – Peter Griffin
A vidinha vai correndo, as coisas vão acontecendo, lá vamos dando umas braçadas ou, simplesmente, vamos vogando mais ou menos ao sabor da corrente, tanto quanto possível longe das margens, onde há sempre mais redemoinhos, perturbações, para que a rapidez, ou a fluidez, e a facilidade no percurso sejam maiores, imperem, haja o menor número de obstáculos possível.
No entanto nem tudo está sob controlo e muitas vezes somos apanhados pelo imprevisto, na curva, ou por aquilo que tentamos evitar há que tempos e que acabou por deixar de ser possível.
Estamos perante um redemoinho e, queiramos ou não, é a hora, temos que abrandar, parar, dar uma volta sobre nós próprios. É agora e é inadiável... vamos ter que meter a mão na consciência. O debate connosco próprios urge e, interiormente, com mais ou menos profundidade, vamos pôr-nos em causa. Estamos a fazer o que devemos, como e quando devemos? Claro que não estamos sós, claro que sofremos e beneficiamos da influência daquilo que está à nossa volta, é impossível esbracejar constantemente contra a corrente; mas é claro, também, e isso vem à tona a qualquer momento, que não podemos empurrar tudo para a responsabilidade da corrente, das circunstâncias. Não posso empurrar, esconder, a minha individualidade para o imponderável.
Quanto mais frequentemente metermos a mão na consciência e agirmos em consequência, mais leves poderemos tornar-nos, sentir, e aquilo que poderia aparentar ser demasiado pesado, mais difícil de fazer, acaba por facilitar que permaneçamos à tona, mão no leme, e que façamos o nosso caminho, livre, entre as margens.
Jorge Saraiva