Foto: Suffering – Andreea Maria Silvestru
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(silêncio)
O silêncio é caleidoscópico! Tem miríades de nuances e significados! Contém toda a sabedoria da humanidade, talvez por isso se diz que é de ouro. Pode ser de sabedoria, de um fervilhar de ideias e pensamentos, do mais doce amor, de compreensão, de empatia e de compaixão. Pode ser intencional e consciente, uma porta de acesso ao divino, uma conexão com o universo, um canal para o conhecimento mais profundo de si próprio e do universo.
O silêncio pode ser uma arma, contém em si todo o rumor do mundo, pode ser ensurdecedor, de revolta e de raiva, de resistência e do mais vil e convincente desprezo.
Tem também um lado oculto e perverso. O silêncio da penitência. O silêncio de quem cala consente. O silêncio sufocado, engasgado de dor e sofrimento, o silêncio do medo, do pavor, da dominação, da subjugação.
O silêncio do sofrimento que tantos ainda vivem, ou melhor, sobrevivem! Quantas crianças sofrem em silêncio pelos sonhos arrebatados, pelos maus tratos e violações a que as sujeitaram. Quantas mães se subjugaram em silêncio, às violentas e abjetas agressões dos seus filhos e maridos. Quantos idosos sofrem em silêncio, os maus tratos dos seus filhos que tanto amam, pelos quais se sacrificaram para lhes dar uma vida digna e sem privações.
Por último, aquele silêncio tão familiar em cada um de nós, o silêncio da indiferença. Da indiferença do que acontece, do que se passa para além de nós próprios, da nossa bolha asséptica e intransponível. Este sim, é o silêncio mais nefasto, porque nos anestesia, nos torna ainda mais insensíveis às emoções e ao sofrimento dos outros. É o silêncio da indiferença que nos desconecta dos outros, estagnando e regredindo a humanidade.
Por vezes, há que rasgar o silêncio, fazê-lo explodir, jorrando as vozes nele contidas!
Tayhta Visinho