Foto: Girl – Alexandr Ivanov
Costumava pensar que irreversível era a morte. E depois estive tão perto dela e percebi que sei lá se é irreversível ou não, porque na verdade não morri. Sei lá se é o fim, ou uma transformação, ou um passo para outra dimensão, ou o nada total. Não sei mesmo se é irreversível.
Irreversível é viver. Cada escolha que fazemos, cada decisão que tomamos, o modo como vamos moldando o nosso destino. Os passos que damos, os cursos que escolhemos tirar ou não, os empregos. O modo como cuidamos da nossa saúde e do nosso bem estar físico ou psicológico, se somos ativos ou passivos. E os imponderáveis, como um acidente de viação que nos incapacita para a vida e nos rouba anos de qualidade de vida. Irreversível é tudo o que fazemos porque tudo define a nossa história e o nosso percurso, quer queiramos quer não. Se tivéssemos noção disso muito cedo, acho que não nos mexíamos.
Mais importante ainda, irreversível é como amamos, quem amamos, o que fazemos com os nossos amores e afetos. Se os regamos e alimentamos ou se os levamos a definhar, a morrer. É o modo como acabamos por ser felizes ou infelizes porque menosprezamos amores, demos coisas por garantidas, fomos levianos, fúteis. Irreversível e perigoso é optarmos por ser egocêntricos e egoístas. Magoarmos aqueles que nos amam, isso sim, não tem volta.
Por isso é que a espontaneidade tem que ser programada; somos tão dados a cometer erros graves que é preciso pensar. E, sobretudo, acreditar. Acreditar cegamente no amor, no companheirismo, na honestidade total.
Há riscos que podemos e devemos correr. Normalmente têm a ver com pessoas. Tudo o resto é secundário.
É por isso que dedico esta crónica à pessoa mais importante da minha vida, o meu amor. E ao nosso filhote. Porque aquilo que mais desejo é que, apesar dos tropeções e das dificuldades, o nosso amor seja para sempre irreversível.
Laura Palmer