27.10.17

Wheelchair - LonelyTaws.jpg

Foto: Wheelchair - LonelyTaws

 

Cruzei-me com o Armando, o José Pedro, o Justino e o Rui por motivos profissionais. Conheci-os na altura em que estava a escrever uma reportagem especial sobre o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência (3 de dezembro). Até então, não tinha tido contacto com pessoas portadoras de algum tipo de deficiência.

 

E perguntar-se-ão vocês quem eles são. São pessoas com caraterísticas como cada ser humano. O Armando era, na altura, deputado na Assembleia Municipal da terra onde vivia; ficou surdo com 13 anos. O José Pedro, um jovem de 24 anos, é amistoso e bem-disposto, com um espírito positivo contagiante e uma vontade de aprender que não lhe cabia no peito; tem paralisia cerebral. O Justino é voluntário e depois de uma fase menos boa deu uma oportunidade a si próprio e aprendeu a lidar com a cegueira que apareceu aos 28 anos. O Rui é escritor, psicólogo e ativista na área da deficiência; está numa cadeira de rodas.

Partilharam comigo as suas histórias. Enquanto os ouvia, ou quando li os seus testemunhos, vi neles o meu próprio reflexo. Vi neles um ser humano, com objetivos de vida, com sonhos, com medos, com esperanças, com utopias, com dúvidas, com incertezas… tal como cada um de nós. Não vi seres especiais, não vi heróis, não vi coitadinhos, não vi diferenças. Vi alguém com vontade de viver e não apenas de sobreviver, sendo aquilo que é sem direito a julgamentos ou discriminações. Como o Rui afirmou: “Não somos nada sozinhos. O que somos, somos porque temos alguém à nossa volta. E ninguém merece ser dispensado de ser quem é”.

Mas nem todos parecemos olhar para estes seres humanos como iguais. E é por isso que precisamos de um dia especial: para lembrarmos e demonstrarmos que somos todos iguais. Tal como o Armando disse: “A sociedade tem um dia para as pessoas com deficiência, mas esquece-se delas no resto dos 364 dias”. Valerá sempre a pena informar, sensibilizar e fazer perceber que ser diferente é bom. Porque a diferença não é o problema. É o poder que cada um de nós tem para compreendermos os outros e, simultaneamente, compreendermo-nos a nós próprios. Afinal, todos somos diferentes. Importante é sabermos viver com as nossas diferenças porque no fim do dia todos temos algo em comum: somos seres humanos. “Todas as pessoas têm deficiências. Aquilo que separa a normalidade da anormalidade é mais fino que uma folha de papel”, declarou o Armando.

 

Deixo aqui um excerto do texto que o Rui escreveu naquela altura para o jornal. Porque melhor do que falar sobre eles, só mesmo ouvi-los, ou lê-los, na primeira pessoa:

“É urgente que nos pare de tratar como heróis ou coitadinhos. Estas duas vidas que nos atribuem são de mentira, não prestam e não as queremos. Compreenda que por trabalharmos, rirmos, praticarmos desporto, namorarmos (etc.) não faz de nós heróis. Ressalvo que são poucos os que conseguem fazer tudo isso, mas asseguro-lhe, não são heróis. E muito menos a maioria que não tem essa oportunidade é composta por coitadinhos. São humanos, tanto os que considera heróis, como os que considera coitadinhos. Humanos. Como você, que coitadinho precisa criar heróis para provar que há vidas piores do que a sua. Não estamos dispostos a isso.”.

 

Sandra Sousa

 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 07:30  Comentar

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