Foto: Light-bulb - Jukka Niittymaa
- Luz, quero mais luz! Dai-me luz!
Urgiu, nas suas últimas palavras, reza a lenda, Goethe, no seu leito de morte, para com quem o acompanhava.
Mas a morte, surda, cega, opaca, não deixou passar a luz.
Ver, no sentido de saber, conhecer, é viver. Para ver precisamos de fazer com que a luz chegue até nós, sem obstáculos.
A falta de luz, assim tal e qual, deixa muitas criancinhas, com medo do escuro. O desconhecido faz-lhes medo, torna-as inseguras, ansiosas. Precisam de uma luzinha, de presença que seja, para se sentirem no controlo e poderem adormecer. É como o obscurantismo, com consequência nos adultos, vive do medo, do rumor, da distorção, alimenta e cavalga a ignorância.
O ar do dia ensolarado e de límpida atmosfera, o vidro amplo, liso, perfeitamente fabricado, a água cristalina, mesmo que corra, permitem ver através de si, são transparentes. Deixam passar a luz.
A transparência deixa passar tudo, ver e ser visto com nitidez: a verdade, a mentira, o reflexo, a refração. Ela, assim, vai-nos enriquecendo de ferramentas que nos permitem ver e saber e criticar e analisar.
A transparência faz, proporciona, com que cada um aja como se estivesse a ser observado.
Dá poder. Dá responsabilidade. Gera respeito.
Informação é poder, com informação, formação generalizada, ajo e uso o poder com responsabilidade e respeito, entre semelhantes.
Se não houver black outs e a transparência for generalizada, a luz beneficia todos, todos teremos acesso a saber, conhecer pelos nossos próprios meios. E assim estaremos mais bem preparados para saber das coisas, compreendê-las, discuti-las, dar contributos. Sem intermediários que nos contam a sua verdade. Sem alguém com poder para decidir o que cada um pode ou não saber.
Sim, é utópico.
Haja luz.
Jorge Saraiva