Foto: Child-sitting - Hans Kretzmann
Há alturas em que as formas da pessoa se alteram na sua essência, as cores da sua vida se transformam em tons alternadamente quentes e frios, e os passos que eram determinados são, agora, dados com muita dúvida, com medo e com esforço. Parece que o caminho é indefinido, o corpo teima em não encontrar as suas formas iniciais; o exterior (o ambiente externo ao corpo) está indefinido, incerto e não transmite confiança. Existem tentativas de reconfortar o corpo de modo a recuperar as suas formas, mas sem muito sucesso porque, as forças externas não ajudam nesse imprescindível trabalho. São forças negativas que não empurram para a frente, no sentido de evitar uma gradação de corres chocante. A vida das pessoas não precisa disto…
Quando as coisas nos fazem sofrer, nos causam dor, quer dentro do corpo, quer fora dele, o corpo grita; deixa de existir o silêncio dentro do corpo e fora dele, sem dor, sem sofrimento. O grito a que me refiro é esse grito, aquele que surge quando o corpo deixou de ter forma, quando o exterior empurra para traz depois de várias tentativas falhadas de seguir em frente. Encaro-o como uma forma de exprimir um sentimento; desespero; conflito… Quem o faz, fá-lo com um fim libertador. Eu compreendo assim o grito “gritado” aos ouvidos dos outros, mas os gritos silenciosos existem… Como perceber estes? Talvez também o compreenda; o seu problema é não ter som e isso pode torná-lo mais complexo.
Ermelinda Macedo