Tempos passados, de memórias confusas, difusas e sem repetição. Coisas novas, fantásticas, das surpresas e espantos. Tempos de tudo ser importante, de todos serem importantes. De não saber como iria ser se (quando) tudo nos falhasse. Os pais, os irmãos, os avós. Os castigos, os amigos e a dor de se esfolar um joelho. O professor, os “calduços”, a bola, o recreio. A campainha ou o toque, o azar e a sorte e o beijo atrás do pavilhão. E claro, o parvalhão. Ainda não era um bully...
Os tamanhos eram diferentes, um T2 gigante e o pai também. O Algarve era noutro planeta e os carros não tinham cintos atrás. Afinal eram 80 metros quadrados, 1,65 metros e mais ou menos 600 quilómetros. Os telefones tinham um disco e um disco era um disco. Faziam um barulho engraçado quando abanados com força. Dois canais na televisão. Levanta-te tu agora para mudar de canal.
Domingo, almoço nos avós. Formula 1 na televisão e o Senna... O Senna... Na rádio era o Michael, a Tina ou a Madonna. Na aparelhagem os Abba, os Pink ou Doors. Promoções fantásticas da Cola ou da Pepsi. Uma vez ganhei um pager! O sumo natural de maracujá e as latas do Nestum que foram tambores. Meus e depois dos primos.
Visitas na maternidade para conhecer o irmão. Gosto dele mas não gosto dele. Roubou a atenção. Uma rosa para a mãe e desenhos no dia do pai. E no dia da mãe também. Versos curtos, copiados, invariavelmente a terminar no amo-te. “Sou pequenino, do tamanho de um botão, (qualquer coisa), mãe no coração”.
As fotos no jardim do Passeio Alegre e as idas ao minigolfe. Um Golf branco sem extras. Mas que vinha com rádio. O shopping era o Brasília e cheguei a ver o Michael Knight com o KITT. Depois fizeram lá um lago com barcos. Mas as moelas eram no café “Pé-de-vento” com o avô.
Ó tempo, não voltes para trás. As coisas repetidas não têm piada.
Rui Duarte