Foto: Pretty - Deedee86
O primeiro conceito que me ocorre é o de luz, brilho. Só com boa iluminação, conseguimos, naturalmente, ver. Só vendo, apreciamos.
Assim, por exemplo, não sabemos, não conhecemos, olhando a partir daqui do pedaço, como é o outro lado da lua, o lado não iluminado. E sim, parece-me que está certo, com luz vejo, com luz aprecio.
Mas não chega, completando. Não é apenas o que entra pelos olhos dentro, quase como que se impondo, que eu consigo apreciar. Então, se quiser e for caso de passar de uma (mera?) primeira impressão, vou além de ver e junto-lhe o sentir, algo de interior que, na realidade, não se vê, [mais do que ver, sei, sinto; talvez careça de mais tempo, disponibilidade, do que uma rápida vista de olhos proporciona, não desfazendo no conceito de “primeira impressão”] que está no interior, que não tem luz. Aliás quando sou alagado, emocionado, arrepiado por algo de belo, e o belo pode ser qualquer coisa de imenso, incomensurável, é natural que eu feche os olhos. Para perceber, sentir melhor. Interiorizar.
A luz dá-me imagens, permite-me compreensão, para além de mil palavras, mas a beleza, mesmo que só física, e pode ser muito mais que isso, percebo-a, ilumina-me completamente se fechar os olhos e tentar contê-la, apoderando-me dela, assim, dentro de mim. Extraordinário, maravilhoso, como a mais pequena coisa, gesto, dito, ato - muito pequena mesmo, (quase) impercetível, para quem (es)tiver com menos disposição, sensibilidade - pode ser imensa, envolver-nos, encher-nos, quase a ponto de não nos contermos e transbordarmos, tornar-nos maiores!
A vida pode ser bela.
Jorge Saraiva