Foto: Dame Un Beso – Xoan Seoane
Espera… cede-me um momento… e deixa que esse momento se perca no tempo, pois tenho todo o tempo para te ouvir… mas se o final do tempo chegou para ti, atrasa o relógio… volta atrás no tempo e com o que dele resta lutarei para que fiques…
“Deixa-me partir desta cidade, deste mundo… quero perder-me de mim. Ao meu redor só vejo as cinzas provocadas por um mundo em chamas, um mundo que desabou. Preciso procurar uma nova casa e se o que se esconde para lá do que podemos percepcionar pode ser apelidado de casa… então quero ir para casa… sinto-me sem forças e não me quero atrasar para o meu encontro… marquei encontro com o descanso eterno do outro lado da lua… no seu lado negro, frio e sombrio.
O coração já quase não bate por ninguém após tanta dor… as aspirações voaram com o vento após a tempestade de barreiras e obstáculos… se eu já não consigo dormir como poderei voltar a sonhar? Mas se não sonho então como pareço viver num pesadelo?
Faço-me à estrada… encontro-me sem Norte mas a bússola aponta-me o caminho… um caminho sem volta. Perguntam-me se vou morrer… não… pois já morri há muito tempo…”.
As pegadas que deixas no teu caminho são como sinais… signos com o seu significado à espera de serem decifrados… consigo juntar as letras e ouvir o som da tua voz a proferi-las… o mesmo vento que te levou as aspirações traz-me agora a tua mensagem… ”Salva-me”.
Não te aponto o dedo nem te julgo pela tua vontade… não te acuso de egoísmo… a sociedade é uma construção social fabricada pelo Homem e para o Homem… e ambos sabemos o que o Homem é capaz de fazer aos seus pares… a irracionalidade do ser racional levou a que a pouco e pouco te fosses alheando do imenso teatro que nos rodeia… já não queres ser a atração principal da tua vida, olhas para os teus documentos mas não encontras a tua identidade, não sabes o que são certezas pois em ti já só encontras dúvidas.
Por entre toda essa anomia ainda consigo vislumbrar uma imensa luz… não é a noite nas cidades que a irradia, nem tampouco o seu brilho provém de corpos celestes… é uma luz que nasce nos teus olhos capazes ainda de encandear… nos teus olhos ainda se reflete esperança, amor, um sorriso e o desejo de viver.
A tua vida não está mais perdida, pois eu encontrei-a e agora é o momento de a devolver a quem mais dela precisa…devolvo-a a ti.
“As flores não são mais cinzentas, os rios voltaram a correr para o mar, o céu vestiu-se novamente de azul, o sol renasceu, o vento voltou a soprar de forma melodiosa… e eu voltei a mim.
Falamos de momentos… e percebo agora que este não era o momento de partir, mas sim de ficar… e de viver… eu escolhi Viver…”.
P. Melo