Um dia perguntei à minha avó materna se ela era feliz. Ela sorriu, um pouco desconfiada com a pergunta, e disse que sim, que era muito feliz. A resposta dela deixou-me perplexa. É que ela tinha perdido três (!) filhos. E na minha cabeça de 12 anos, aquilo era mais do que motivo para ela ser infeliz para sempre! Mas ela era feliz… Indaguei-a sobre a minha dúvida. Como se pode ser feliz depois de tamanhas perdas. Ela passou-me a mão pelo cabelo, encaracolou uma madeixa no dedo e disse: É o tempo! Na altura em que perdi cada um dos meus filhos, apetecia-me morrer junto com eles, não queria saber de nada nem de ninguém. Mas aquela angústia terrível que aperta o peito, vai passando, vai passando até que é possível ser de novo feliz!”.
E eu acreditei nela. E agora, que já passei por tantas perdas, inclusivamente a dela, sei que é verdade. O tempo não é um inimigo. É um aliado que ajuda a sublimar a perda em algo maior do que a própria dor.
Sara Almeida