Gosto muito de receitas tradicionais, especialmente de cozinha portuguesa, da chamada culinária de tacho. Mas não desdenho, nada, várias outras, que vou conhecendo de Espanha, França, Itália, Cabo Verde, Índia, ...
Perante, por exemplo, um cabrito de leite assado no forno, o arroz de miúdos e os legumes a acolitar, penso algumas vezes na conjugação de fatores, misturados q.b. com a passagem do tempo, com o clima, a agropecuária, tudo muito afinado para gerar momentos únicos, em certo sentido quase mágicos, em que estamos à mesa, convivemos e fazemos destes momentos algo quase eterno, de gravados indelevelmente na memória.
Já não sou assim tão fã ou entusiasta da prestidigitação, das ilusões produzidas e apresentadas pelos mágicos. No entanto há mágicos que conseguem efeitos espetaculares, por impossíveis ou invesosímeis que são, de se ficar com a boca aberta e os dedos a coçar a cabeça. Parecem ultrapassar, contornar as leis da física. É magia, pronto.
Está bem, confesso, esta conversa tem uma moral!
É isso mesmo, há receitas, há “magias”, mas não dá para juntar, não há receitas mágicas.
Resultados são efeito de uma causa que é o trabalho; feito com conhecimento, técnica, método, inovação, experimentação, organização de tempo, persistência, dedicação, rotina. Ufa!!
Na realidade, para lá da ilusão, os mágicos trabalham, trabalham, trabalham, para fazer de conta que são mágicos e assim conseguirem ultrapassar as leis da física e nos deixarem boqueabertos.
Quanto ao trabalho, gerações após gerações, que deu para se chegar à invenção e ao apuro (únicos e maravilhosos) de um bolinho de bacalhau, vale mais nem pensar. O melhor é comê-lo mesmo. Se possível, repetir.
Jorge Saraiva