Manifestação humana de solidariedade e indiferença face ao desaparecimento físico de alguém, próximo por consanguinidade ou por afinidade, caraterizada por um período de isolamento temporário do exercício de atividades de manifesto regozijo, devolvendo alguma serenidade e aconchego à alma da pessoa enlutada para poder libertar-se da dor da perda e assim reconstituir-se emocionalmente para dar seguimento a socialização corrente.
O estado de luto sujeita-nos necessariamente a um período deprimente, sentimento de solidão, questionamento do “eu” que naquele instante encontra-se abalado por não poder exercer a socialização como se, e não é para menos, a pessoa que partiu fosse o único ou o melhor ser na face da terra sem o qual a vida não fará mais sentido.
É uma experiência necessária, viver enlutado, momento de profunda escuridão marcada pela incerteza, que antecede a um período cinzento (nebuloso) e finalmente um período transparente de renascimento, redescoberta, esperança e luz na contínua peregrinação e crença na vida pós-morte.
Por culpa ou impunidade própria podemos azedar ou atenuar este sentimento de acordo com a estabilidade que nos ligava ao falecido, percetível, dentre outros sinais, pelo ambiente ou clima dos mais recentes encontros.
O clima social entre 2 pessoas resulta do entendimento, na concórdia ou discórdia, e do saldo do fluxo das transações emocionais. Quando o saldo é favorável o estado emocional facilmente recompõe-se e renasce a esperança de um ”até logo”, pois a ligação entre 2 pessoas tem uma dimensão transcendental forte e que ultrapassa o limite da existência física.
Haverá necessariamente uma razão substantiva para a morte de uma pessoa, e outra razão suprema associada a própria vida, apenas Ele detêm o dom da vida e da morte.
A vida é nossa como soe-se dizer, no entanto que o complexo de necessidades e desejos carnais que orientam a nossa ação, mas a alma não nos pertence. Todo o ser, desde o mais indefeso, tem a sua alma blindada por Quem a concede, protege e repara. Surge daí que a saúde de alguém tem quatro dimensões: física, psíquica, emocional e paz interior. Enquanto o aspeto físico e fisionómico é herdado dos nossos progenitores, e a personalidade é fortemente moldada pelo ambiente e contexto, a paz interior (consciência) é um “órgão” que não tendo existência física no sistema personifica a anatomia humana.
António Sendi