Foto: Diverse Faces – Dawn Hudson
Sou um ser diferente a cada momento que passa. Os acontecimentos, factos sucessivos e constantes que preenchem cada momento, transformam-me, não me deixam indiferente, e impedem-me de estar sempre da mesma maneira.
Chegam-me imagens que interiorizo e retenho algures dentro de mim, não sei onde, que alimentam os meus “eus”. Triste ou alegre, cordata ou renitente, tranquila ou desassossegada, sou tudo isto de acordo com o que me chega.
Se o amor me toca sou poderosa e crio beleza até nas coisas mais improváveis, nos dias cinzentos, nas árvores nuas, nos campos secos, e nas águas turvas, mas, não passarão disso mesmo, coisas horríveis e feias, se o desamor me arranha.
Se o manto frio da morte se estende na minha proximidade, sou outra, que não era até então. A proximidade com a morte dá-me uma lucidez incapaz de experimentar em qualquer outra circunstância. Faz de mim um ser finito e humano como comumente se diz, afinal, muito menos poderosa do que o amor me fez crer.
Sou o que não quero ser, o que quero ser, não sou. Sou o que é preciso ser. Sou o que tem de ser. Sou o que sou, sem mesmo saber o que isso significa. E, nesta diversidade de “seres”, a única certeza que tenho sobre mim, é a de que nunca saberei quem realmente sou.
Hoje, não é por acaso que sou diferente de ontem. Agora, sou sem dúvida diferente do que era há dois minutos antes desta reflexão.
Cidália Carvalho