Foto: York City View – Petr Kratochvil
De repente o meu corpo voa em queda livre a grande velocidade… a força do ar comprime o meu rosto deformando-o… em segundos, os pontos distantes ganham forma… a distância vertiginosamente encurtada, desenha os vários contornos das copas das árvores, dos telhados… a agitação da cidade que acorda torna-se nítida e os ruídos mais percetíveis à medida que me aproximo do fim… o impacto derradeiro: um espasmo doloroso percorre todo o corpo fazendo-me saltar na cama…
Acordo sobressaltada, desorientada, os cabelos molhados, o corpo a ferver, húmido de transpiração da brutal emoção final. Sento-me na cama, surpreendida com este sonho em que ponho termo a uma vida, a minha própria vida. Nunca a ideia de suicídio me tinha surgido de forma tão pungente, tão real!
Essa ideia de uma aparente liberdade, esse ilusório poder sobre a própria vida, fez-me pensar…
A ideia de suicídio afigura-se como uma remota possibilidade de comandar a vida, interrompendo-a. Percebemos que temos a capacidade de decidir antecipar um fim que desde o momento do nosso nascimento já é certo, embora num tempo incerto.
Se encararmos essa ideia apenas como uma possibilidade, ou uma fantasia, e não como uma alternativa de ação, ela passa a ter o efeito placebo, que de certa forma ajuda a superar e ultrapassar as dificuldades. Tal como a ideia de ganhar o euromilhões nos abre a possibilidade de sonhar com uma outra vida de luxos obscenos, sem arrependimentos.
Percebi o poder que temos dentro de nós. E percebi que os desafios se desfiam quando os encaramos com toda a força e energia que temos escondidas dentro de nós, sem nos darmos conta.
Levantei-me da cama, espreguicei-me languidamente e sorri com gratidão para o dia que surgia, com novas aprendizagens e desafios para desfiar.
Tayhta Visinho