Nem sei de que falamos com isto de “Um vs o Mundo”. Quem é o “um”? O que é “o Mundo”? Trata-se de uma batalha, de um confronto, de um combate de boxe, de uma sintonia a rodar sobre si própria sem fim nem princípio? Uma entidade em frente a outras? Como e onde funciona esta engrenagem?
Por vezes sinto que sou eu aqui, deste lado do muro, e os outros lá fora, no tal Mundo.
Outras vezes é só alguém perdido por aí a tentar encontrar uma luz ou um sentido.
Noutras alturas, sinto-me onde o Mundo está, esse Mundo de pessoas, mas também de animais, coisas, flores, luz e sombra, natureza. Sou parte desse mecanismo e encontro nele harmonia e alguma paz.
E depois há aqueles momentos em que eu sou o Mundo, ou pelo menos o mundo que conta e que é o meu mundo, uno e indivísivel. Alturas em que duvido sequer se alguma coisa existe para lá do meu cérebro e das batidas do meu coração… se algo existe que não seja só o fio dos meus pensamentos e do sangue a correr dentro de mim. E penso se isso sequer existe, se não sou só um barulho sem rumo nem destino, à deriva na espuma do tempo.
Mas depois aparece alguém que amo, ouço uma voz, sinto–me aos pulinhos dentro de mim, e o Mundo é, em essência, o Mundo dos meus muitos afetos.
Continuo sem saber se existe o tempo, se existe o espaço, se faz sentido falar num Mundo.
Aquilo de que não duvido é, muito simplesmente, de que estou aqui, neste preciso instante que não quero que acabe nunca, e sou, nem que seja só dentro de mim, ou se calhar em múltiplos e infindos universos paralelos e palpáveis. Se calhar, isto não acaba nem começa mesmo. Seja como e onde for, ou não for, aquilo que sou é a soma dos meus pensentimentos e esta certeza de que enquanto houver amores, estou viva. E pronto, os Nocturnos de Chopin também ajudam.
Dora Cabral