Consultei a definição de consciência, em vários sítios e encontrei definições científicas, filosóficas e psicológicas. No entanto, o que me interessa neste momento é a consciência do outro. É saber que o outro existe e é diferente e desconhecido. Mas nem por isso mau e perigoso. Se temos consciência de nós, devemos tentar ter consciência do outro, do que ele sente e pensa, de como ele vê a vida e o mundo à volta, de como ele reage e se comporta.
Não tenho página no Facebook, mas ontem, em conversa com umas amigas, apercebi-me de que andam a circular fotos, vídeos e opiniões por todo esse universo, sobre os refugiados e sobre o mal que essas pessoas vão trazer a todos os países onde chegarem. Nem sempre vejo as notícias, mas quando acontece, o que vejo são centenas de pessoas a fugir de uma realidade atroz, pessoas que deixam tudo para trás, que se arriscam a morrer na travessia por mar, que sujeitam os filhos, pequenos, ao perigo e que falam uma língua incompreensível. Essas pessoas fogem para uma terra que consideram melhor, de liberdade, de oportunidades, de refúgio e de promessas para si, mas acima de tudo para os seus filhos. Além de tudo o que têm de enfrentar, estas pessoas têm de enfrentar o preconceito e a discriminação de quem cá está. Mais uma travessia difícil!
Portanto, o que me ocorre sugerir é fazermos, todos, alguns exercícios de consciência e pormo-nos no lugar dos refugiados, que fogem dum país que já não lhes oferece nada. Podemos imaginar que estamos com dezenas de pessoas no mesmo barco, pequeno, a atravessar o mar. Podemos imaginar que temos um filho, ou uma filha, aterrorizado no nosso colo, a chorar todo o caminho. Podemos imaginar que temos fome e frio e que não sabemos onde vamos chegar, ou se chegaremos. Podemos imaginar chegar a terra e querer comunicar e não sabermos falar a língua e não conseguirmos que ninguém nos entenda. Sim, porque nem todos os refugiados sabem falar inglês. Podemos imaginar que nunca mais veremos a nossa casa e a nossa cidade ou aldeia. Podemos imaginar que chegamos a terra e sentimos alívio e alegria, porque agora estamos a salvo. Podemos imaginar o terror que se sente quando é dito que temos de voltar para lá. Podemos imaginar muita coisa, mas é difícil pormo-nos no lugar deles porque estamos aqui protegidos e a desgraça vemo-la na televisão.
Neste momento, para mim, a voz da consciência deveria falar outra língua e a mão na consciência deveria segurá-la, enquanto a outra mão a prende para não a deixar cair. A consciência do outro que vem até nós e a consciência de que o medo é poderoso. O medo com que os refugiados fogem é o mesmo com que nós os recebemos. Há que ter consciência disso para pararem as histórias, as imagens e os filmes. Há que ter consciência para se sentir um peso nela!
Patrícia Leitão