Foto: Seagull - Unsplash
Sabes, um destes dias – daqueles dias perfeitamente normais em que nada de interessante mereceria registá-lo - olhei para mim.
Não me olhei ao espelho (até porque raramente me olho ao espelho; não consigo encarar-me, percebes?). Olhei para dentro de mim, para a minha essência, para o meu ser. E não gostei do que vi.
Aconteceu de repente, sem que voluntariamente eu o desejasse. Eu estava apenas ali, na varanda, a olhar para a tarde que terminava sem pressas, enquanto uma gaivota espreguiçava as asas na pequena piscina em que se banhava.
E pelo seu caráter inesperado, este momento atingiu-me como um raio.
Primeiro, vi um vazio. Não um vazio emocional (Ah! as emoções! Poderia vendê-las aos molhos!), mas um vácuo intelectual, cultural, social.
Senti-me roubada, compreendes?!
Quem me retirou as convicções, pensamentos, os argumentos bem defendidos?
Quem me arrancou as minhas preferências, hobbies, vícios e manias?
Quem apagou aquilo que eu era e aquilo que eu projetava ser?
Um vidro lavado de uma janela é mais interessante. Sou transparente. Desapareci. (Conseguirás ainda ver-me?)
E pergunto-me se este será um caminho sem volta, se poderei ainda resgatar-me.
Todavia, neste momento, as únicas respostas que me surgem são aquelas que aparecem nos questionários para evitar um beco sem saída:
Nada. Não sei. Não respondo. Não aplicável.
Sandrapep