Foto: Hands together - Gladis Abril
Ser solidário é?
- Comprar “massa, arroz e salsichas” para entregar numa campanha alimentar
- Comprar postais de Natal de uma organização
- Comprar bonecos ou canetas à porta do supermercado ou da bomba de gasolina
- Colocar umas moedas numa lata e receber um autocolante
- Comprar um miniboneco, de cor diferente do ano anterior
- Comprar um barrete de Natal, de cor diferente do ano anterior
- Comprar um isqueiro ou lenços de papel enquanto estamos parados num semáforo
- Fazer uma transferência bancária para uma conta solidária
- Patrocinar uma criança em África, por débito direto
- Fazer um donativo na declaração do IRS
- Comprar produtos mais baratos numa feira social
- Fazer voluntariado
- Fazer greve de zelo por apoio a colegas de profissão
- Doar sangue / medula óssea
- Todas as anteriores
- Algumas das anteriores
- Todas as anteriores, mas não chega
- Algumas das anteriores, mas não chega
- Todas as anteriores, mas não é bem isso
- Algumas das anteriores, mas não é bem isso
- Algumas das respostas anteriores, mais a opinião do Rui (A “boa” solidariedade – ia escrever verdadeira, mas pareceu-me talvez excessivo – não tem tempos nem períodos específicos. Não é feita de campanhas e de épocas festivas. Não se faz às portas de estabelecimentos, nem aos magotes. Certamente não se faz a troco de benefícios (in)diretos para “quartos”, se considerarmos que os “terceiros” é que deveriam ser os recetores do gesto solidário.
A pergunta não é minha e muito menos nova: quanto ganham os supermercados e o governo com as campanhas alimentares? Quanto ganham os bancos com as transferências solidárias? A solidariedade “massificada” ajuda pessoas? Certamente. Mas também “ajuda” pessoas (entenda-se por organizações e algumas figuras de gestão) mais do que deveria? Certamente. A “boa” solidariedade não tem forçosamente de ser voluntariado. A “boa” solidariedade pode (e nalguns casos deve!) ser remunerada. Se é para “fazer o bem”, mas fazê-lo mesmo, péssimo é ter um incompetente de borla a gerir as coisas. A responsabilidade, social neste caso, pode ser voluntariosa ou profissional. Não é isso que está em causa. Em causa está a consequência (social, politica, jurídica) da irresponsabilidade dos atos praticados. Para liderar ou gerir o ato solidário, prefiro ter um profissional solidário que um voluntário solidário. Quer se goste ou não, o comprometimento com a lei é superior ao comprometimento com a consciência. A “boa” solidariedade é individualizada. É o comprometimento com as pessoas e, em segundo lugar, com as causas. É o estar lá mesmo, compreender mesmo, ajudar mesmo, sentir (quase) o mesmo. Sem lamechices ou dramas. Com respeito (e porque não, admiração) pelo outro. Com os Direitos Humanos bem presentes em cada ação, porque sem a sua observância não existe solidariedade.)
Em janeiro perfazem-se 18 anos de trabalho numa IPSS. Sou feliz por observar atos de solidariedade diária há tanto tempo. Permitam-me uma palavra de apreço e agradecimento sentido a todas as pessoas que ali trabalham e, evidentemente, às pessoas para quem e com quem nós estamos.
Rui Duarte