Foto: Portrait - Szilárd Szabó
Coisas bonitas. Gosto de coisas bonitas.
Gosto de me emocionar – é um dos sinais mais evidentes de que estou vivo, desperto, tenho energia - e a estética, a beleza sensibilizam-me, motivam-me.
Portanto, aqui vai: todos iguais, todos diferentes. Falando de pessoas. Iguais em termos de oportunidades, de direitos, de deveres, de acesso. Diferentes na particularidade de cada um, na nossa individualidade, na história que fomos vivendo e que nos foi sendo transmitida. O nosso caminho.
As diferenças podem ser ínfimas, pense-se nos gémeos verdadeiros, quase impercetíveis à vista, como é a primeira. Esse mínimo se não for combatido vai, naturalmente, gerar a prazo diferenças mais ou menos evidentes. Somos pessoas, somo indivíduos, somos diferentes, especializamo-nos, adquirimos diferentes capacidades.
Referi-me à passagem do tempo e de como a mínima diferença, não interditada, irá gerar particularidades que nos individualizam notória e evidentemente.
É bom, é bonito, enriquecedor.
É como, passando para o espaço, duas retas quase, quase paralelas, de tal maneira que se nos fixarmos num segmento de um metro, aparentam ter a mesma distância entre elas nos seus extremos. Agora consideremos as retas sem princípio nem fim, haverá um ponto onde se cruzam, assim como há inúmeros pontos onde a distância entre elas é infinito. Só para visualizar.
Convém não esquecer que as diferenças, digamos individualizantes, convivem com as semelhanças, não as apagam. Não anulam uma caraterística do Homem que é a de ser gregário, organizar-se em sociedade, família, vizinhança, nação, cultura...
Diferença convive bem com semelhança. Como indivíduo com família, grupo, sociedade. Não só é compatível, como pode ser enriquecedor. Se se utilizarem as competências, interesses, gostos de cada um – sejam quais forem, técnicas, artísticas, sociais, abstratas, concretas, manuais ou intelectuais – numa perspetiva de troca, de distribuição, com o intuito de acrescentar algo a outro, individualmente ou em conjunto, se ganho com a ajuda de outros para suprir dificuldades próprias, estamos a ser solidários, gregários. A utilizar a individualidade, livremente, voluntariamente, como fator de gregarismo em que outros ganham competências e capacidades para as quais não estavam tão habilitados, circunstancialmente ou não.
É solidariedade. Troca de recursos, podem ser ideias, em que somos, todos, interdependentes. Solidarizando mutuamente. A troca não tem de ser imediata, nem é uma igualdade contabilística, mas é suposto acontecer. Assim não desvalorizemos, cada um ou a sociedade, a capacidade de ninguém. Assim reconheçamos o que precisamos, reconheçamos quem tem mais competência e saber, assim queiramos ser ajudados.
Não para criar dependência, não como obrigação, antes e primordialmente para melhorarmos, para sermos mais capazes. É solidariedade.
A solidariedade é bonita.
Jorge Saraiva