Foto: Airport - Jé Shoots
Pensámos muito relativamente a esta partida. Ponderámos prós e contras. Chegou o momento. Despedimo-nos das pessoas que nos acompanharam ao aeroporto. Que despedida! Entramos no avião ainda com incertezas. Sabemos que vai ser uma viagem que nos vai transportar para aquele lugar por algum tempo. Vamos à procura de qualquer coisa que não temos cá. A saudade começou quando ainda ponderávamos os prós e contras.
Durante a viagem apetece desistir. Agora já não dá. Ainda na viagem, a nossa cabeça lembra-se daquela festa onde conhecemos algumas pessoas que deixamos cá; das corridas que fazíamos ao fim de semana, todos juntos; dos encontros ao fim da tarde com aqueles que escolhemos para nossos amigos; das namoradas e namorados que deixamos cá, dos pais e irmãos com quem partilhamos, face a face, os nossos problemas, os nossos segredos e as nossas aventuras; dos filhos que deixamos cá; a relva que regávamos ao fim de semana, das flores dos nossos jardins; daquele quarto onde dormimos toda a vida; daquele recanto da casa onde nos sentíamos melhor; das desavenças que tivemos com os nossos pais, com os nossos filhos, com os nossos irmãos e com os nossos amigos; dos momentos de alegria e de sofrimento que fizemos questão de partilhar com os filhos, com os pais, com os nossos irmãos e com os amigos; dos momentos de alegria e de sofrimento que os filhos, os pais, os irmãos e os amigos fizeram questão de partilhar connosco; dos altos e baixos das nossas vidas. Na viagem, a nossa cabeça lembra-se de tudo isto… e de outras coisas. Estamos sozinhos com o nosso pensamento.
A viagem continua e a incerteza também. De cima, conseguimos ver que passamos mar, cidades, montanhas e aldeias. A nossa cidade ficou para trás no mapa.
Chegamos ao destino. O que nos reversa este destino? Nós pesámos prós e contras e os prós ganharam, por isso, a decisão foi de partir. E agora? Vamos iniciar um ciclo novo da nossa vida? Como fazemos relativamente a tudo o que a nossa cabeça pensou no avião? Como gerimos a saudade? Partir para outro lugar no mapa, para nos dar qualquer coisa que não temos cá, implica um descontinuar de tudo o que deixamos cá? Dizem que agora estamos todos muito perto; que “somos do mundo”; que temos instrumentos fantásticos, como a Internet, viagens baratas e rápidas que nos permitem entrar na nossa cidade num instante e, também, que o ser humano se adapta com facilidade. Pois… talvez seja verdade. Sim, vamos ter experiências novas e diferentes, talvez enriquecedoras, mas não podemos “tocar” nas pessoas que deixamos cá. Isso é problema? Bem… vou fazer o exercício para aceitar que “somos do mundo”, que temos instrumentos fantásticos, como a Internet, viagens baratas e rápidas que nos permitem entrar na nossa cidade num instante e, também, que o ser humano se adapta com facilidade e talvez, assim, me sinta mais tranquila.
Ermelinda Macedo