Foto: Kiss – Omar Medina Films
Preenches-me as horas com obstinada precisão, que se me abstrair e tentar deslindar este nó cego de mim, não sei quando chegaste, ao que vieste e porque ficaste. Sei apenas que atada a ti, me sinto bailar entre um luar manso de primavera e o alvorecer de um dia feliz.
Deslizas pelo meu pensamento com a desenvoltura de uma nascente que corre em busca da foz. Difícil, quase impossível, é evitar que te graves em mim - mais ainda.
Debalde, tento racionalizar, tento virar-me do avesso, tento arrancar a venda colada no meu rosto… E falho. Falho porque estás em toda parte, dentro e fora de mim. Como um jogo da cabra-cega, posso não saber onde estás, mas sinto-te perto e assustadoramente só a ti quero agarrar.
E então corro. Corro para fugir de ti, para a venda me cair dos olhos para eu poder encontrar um caminho que me leve noutra direção. Corro. Corro. E quanto mais corro mais sinto na pele que só a ti quero chegar, como se o meu coração apenas soubesse correr na tua direção.
Ana Bessa Martins