Foto: Couple - Lambhappiness
Olhou-me nos olhos. As mãos, de detalhes e traços únicos, acariciavam-me o rosto. Havia sensação naquelas carícias, de resto como em tudo que tocavam, porque eram mágicas. Os dedos longos percorriam livremente o meu rosto, conheciam-lhe os pormenores e os sinais que me distinguiam das demais e me individualizavam. E, nesta divagação, colhia uma felicidade explosiva e o sentimento de eternidade.
Olhou-me nos olhos mas não me viu. Não viu o meu interior, não podia vê-lo, escolheu-me para materialização da mulher com que tinha sonhado. Eu vi no seu olhar essa mulher que ele acreditou ter encontrado e, transformei-me aos poucos no que ele quis que eu fosse. Mudei e quase acreditei na transformação. A simplicidade deu lugar à sofisticação e eu quase gostei. Esqueci referências do passado, adotei novos modelos e quase parecia verdade. Mas esta mulher que o desejo idealizou quase matou a mulher verdadeira. Vivíamos uma alegre mentira. Enganávamo-nos. Ele, a ver em mim o que queria ver mas que eu não era, eu, esquecida do que fora, a fingir ser o que não era.
Mas, amor não se engana.
Olhou-me nos olhos e eu não lhe devolvi a imagem que ele queria ver, mostrei-lhe a minha alma ferida de mentiras.
Viu-me. Amou-me ainda mais!
Cidália Carvalho