Foto: Depression - Štěpán Karásek
Não se produzem certas palavras e frases em certos sítios. As cabeças andam baixas e os olhos fixam principalmente um chão gasto. Os corredores estão preenchidos de sons, muitos deles sem significado. Por aqui não há silêncio. Todas as horas são preenchidas por passos, pessoas e animais. Não existe recanto de sossego onde se possa desligar. Nem que seja por um minuto. Existe a exigência de estar sempre por cá. Sempre presente, nem que se esteja ausente. Como já disse, não se dizem certas coisas. Coisas de um silêncio que não se cala. Elas estão lá e toda a gente o sabe.
Os atrevidos sussurram certas palavras e certas frases. Nesse caso, os olhos não miram o chão, mas acompanham a rotação desconfiada do pescoço. Perscrutam um horizonte curto sempre à espera da surpresa vigilante. A regra do silêncio impera, mas estes bravos cobardes atrevem-se a trocar ideias e informações. Tolos... No final do dia nada ou pouco adianta. Segue-se para casa e arranja-se qualquer coisa para compensar. Umas minis, o futebol, a novela ou compras que não se pode pagar. Qualquer coisa... qualquer coisa para quebrar o sentimento de impotência. O do descontrolo do nosso destino. Durante oito horas alguém mandou em nós. É justo que agora nós mandemos. Ou que tenhamos a doce ilusão de tal. Amanhã repete-se tudo.
Rui Duarte