Foto: Man – George Hodan
Cá estou nas compras, observando tudo, perguntando, tentando perceber onde se praticam os melhores preços, o que é que há de novo relacionado com o que quero comprar – podem ser sapatos, pode ser uma casa, podem ser roupas, ou um automóvel. Recolho toda a informação possível. Se não fosse assim, como é que poderia tomar decisões?
Já quando quero vender o meu carro, a minha casa, onde vivi momentos tão importantes, meus tesouros, não preciso de carregar em nenhum botão para mudar a minha atitude, já quase não quero saber o que se passa à minha volta, com carros idênticos ou com as casas lá da zona. É este o preço que quero porque sim, porque são os meus tesouros, porque paguei por eles.
Eu sou o mesmo, mudou foi a circunstância. Não sou eu na mesma.
Eu sou do tamanho do mundo, acabei de conseguir aquilo que tanto queria e por que tanto lutei. Consegui! Sou imbatível, enorme, eterno!
Faleceu um ente querido, parte da minha vida, percebo a perenidade das coisas, das pessoas. Triste, revoltado, sinto-me pequeno, ínfimo perante o universo e a vida. Transitório, parcelar, o que ando aqui a fazer, vale a pena? E ainda há dias, como se fosse ontem, me sentia do tamanho do mundo...
Como é que os meus filhos me descrevem? E os meus atuais colegas de trabalho? E se forem os da empresa anterior? E quando fui eu o patrão?
Sou o mesmo quando vou ao estádio de futebol ver os jogos do meu clube ou quando os vejo na televisão? E se os jogos são entre outros clubes, tenho o mesmo comportamento?
Posso ser eu o mesmo que alguém, de acordo com o que conhece de mim, descreve como rigoroso, quase sisudo, que não dá ponto sem nó e outra pessoa conhece como brincalhão, divertido, amigo da boémia, sempre a dizer piadas e na brincadeira?
Eu sou um camaleão?
Jorge Saraiva