Foto: Hamburg – Franz P. Sauerteig
Quando é que começámos a jogar este jogo perigoso, este jogo do “toca e foge”? Não! A pergunta certa é: quando é que nos perdemos neste jogo perigoso?
Ignoras as minhas dúvidas e inquietações, não dás importância aos meus pensamentos, não percebes, ou finges não perceber, o quanto eu consigo viver alienada da realidade… É como se dissesses “vem”, mas na verdade seja “não venhas”. E eu vou acreditando que, um dia, irás compreender que vivo mais na realidade que acontece dentro da minha cabeça do que na realidade real. Não compreender o meu corpo, mas invadires o meu pensamento, envolveres-te em tudo aquilo que se passa na minha mente inquieta.
Interessas-te? Não e, por breves momentos, também eu perco o interesse.
Mas acabamos sempre por voltar à nossa realidade paralela, alienados de tudo o que nos rodeia, nessa aleatoriedade onde tu estás, onde eu estou, onde nós existimos. E que comece o jogo da conquista! Ou da incerteza! Movimentamo-nos ao som da nossa própria música, que nunca foi nossa; perdemo-nos nas nossas palavras, que se desfazem de intensidade e sentido. Somos dois peões que se movimentam num tabuleiro sem uma estratégia definida, levados pelo sabor do outro. É um momento de loucura como tantos outros, onde movemos os nossos corpos ao ritmo de algo que, no dia a seguir, percebemos que já nem sequer faz sentido algum. Mesmo assim tu insistes em perguntar-me: A menina dança?
Sandra Sousa