Desde tempos imemoriais que o Homem procura incessantemente encontrar o elixir da eterna juventude, a pedra filosofal e outros artefactos que possibilitem uma existência mais bela, mais rica e mais confortável.
O fracasso da Alquimia deveu-se essencialmente a dois problemas: aos trâmites da física e da química terrestres que impedem, por exemplo, que o tempo ande para trás ou que o chumbo se transforme em ouro; e ao local onde o investimento era feito, sempre no exterior da pessoa.
Sobre a física e a química, compreende-se, até porque se viviam épocas de descoberta e de excesso de vontade. Já sobre o local, convenhamos: continuamos, como dantes, velhos alquimistas do restelo, com excessiva vontade de encontrar fora, aquilo que está, desde sempre, dentro de nós.
Hoje temos uma variedade infindável de máscaras do tempo (cosméticas, cirúrgicas, editoras de imagem) e de estratégias circenses para desenterrar dinheiro. No entanto confundimos o objetivo com o processo: nem beleza nem riqueza são, por si só, sinónimas de felicidade, apesar de residir nelas boa parte dela. São apenas um meio volátil e instável de definirmos a nossa autoestima.
Esta sim, a verdadeira e a legítima felicidade… ou infelicidade.
A autoestima mais não é do que o produto da nossa atitude perante nós mesmos. Vai-se construindo lentamente, ao sabor da convivência com os outros e com o mundo. Tem na sua génese a experimentação, aquilo a que os teóricos chamam de condicionamento (mais operante do que clássico): quando somos crianças, cada situação solicita um comportamento, cada comportamento gera uma reação e cada reação assinala o valor que julgamos ter naquele momento para aquelas pessoas. Assim, de futuro, em situações similares, tendemos a adotar o comportamento que melhor proveito traz para a nossa autoestima. Quando crescemos e nos fazemos adultos, apesar de já dominarmos as ferramentas racionais e de nos conseguirmos posicionar no mundo com a higiénica distância, continuamos a adotar procedimentos tendentes ao ensaboamento do nosso ego. Porquê? Porque esta é a verdadeira essência da felicidade. Sermos aceites e reconhecidos pelo que somos perante as pessoas que nos são significativas é a definição da nossa existência.
Evitamos a todo o custo sermos ignorados e disfarçamos com todos os meios a consciência de uma baixa autoestima. Tendemos a cair em exageros de subvalorização dos outros e de sobrevalorização de nós mesmo quando queremos ser bem-sucedidos em tal disfarce. Tal como, quando temos manifesta e declarada baixa autoestima, valorizamos os nossos defeitos e as virtudes dos outros.
A fórmula da felicidade reside no equilíbrio entre o valor que damos a nós mesmos e aos outros. É saber reconhecer as nossas virtudes e os nossos defeitos e estar disponível para evoluir. Numa frase simples é: amo-me pelo que sou, mas posso melhorar. A materialização desta fórmula passa por ter uma atitude curiosa relativamente aos outros, saber reconhecer e elogiar com justiça e desinteresse as virtudes dos outros. Passa igualmente por saber identificar em nós as competências mais louváveis e as irregularidades mais tóxicas. Passa, por último, pela alteração do referencial com que agimos nos outros e no mundo, sublinhando cada vez mais o que de mais belo vemos nas pessoas.
Joel Cunha