
Podemos encarar o problema da delinquência de duas maneiras: como forma de expressão ou o resultado da incapacidade de controlar impulsos mais instintivos. Dentro desta visão, a delinquência suscita-nos uma certa compreensibilidade, derivada do entendimento da natureza mais animal do ser humano, mas também de uma criatividade esboçante de querer ir além, da qual origina a transgressão.
O comportamento criminoso pode iniciar cedo na vida ou ser potenciado mais tarde, dentro de um contexto que expõe as fragilidades éticas do indivíduo. Seja de que modo for, há sempre uma interação entre a vulnerabilidade do outsider e a efervescência do meio envolvente.
A profilaxia de uma problemática como a delinquência deveria ser um esforço coletivo de reeducação da própria sociedade, sendo certa, contudo, as suas próprias limitações. Não podemos esquecer a grande correlação que existe entre a delinquência e as condições socioeconómicas precárias. A pobreza, fruto de políticas injustas e ultrapassadas, é talvez o maior crime a ocorrer em pleno século XXI. Qual percentagem de responsabilidade deve ser imputada a um jovem, cuja realidade sempre foi de carência, falta de afetividade, falta de incentivo a uma melhoria de vida, violência?
Podemos, individualmente, não ter cognição sobre a nossa contribuição na construção de um mundo melhor. Mas, a partir do momento em que começamos a eliminar os subtis comportamentos de esquiva do núcleo da nossa personalidade, começaremos a resgatar os outros, e a nós mesmos, da marginalidade afetiva, dando bons exemplos e tecendo a teia da reconstrução da dignidade societária.
Tanto mais desenvolvido um país, quanto melhor for a sua educação. Não é só preciso toda uma aldeia para criar uma criança. É também precisa toda uma sociedade para encontrar respostas aos problemas sociais emergentes.
Marta Silva