12.2.09


 


O suicídio ocorre, com maior frequência, à noite?




O suicídio é muitas vezes uma solução patológica para um angustiante problema que a pessoa considera intransponível.


Sabemos que ao risco de suicídio estão frequentemente associadas múltiplas doenças psíquicas ou psiquiátricas. Cerca de 15% dos que o cometem sofrem de depressão, em que a desmotivação de vida é insuportável e torna-se imbatível o não querer viver. A pessoa perdeu toda a capacidade energética e a vida não tem o mínimo sentido ou interesse. Sente-se sempre e invariavelmente, desesperadamente incompreendida e só, mesmo rodeada de gente, desfasada e desencontrada de si mesma, inadaptada e profundamente frustrada e desiludida. “Uma vida sem vida”, dizia alguém.


 


É este estado de espírito que pode levar ao refúgio e à procura da escuridão da noite, para se identificar com o seu sentimento mais profundo. Por outro lado, pode perturbar os que têm dificuldade em gerir esses momentos frios, sós e escuros. A noite pode ser também facilitadora face à vergonha que a sociedade ainda impõe a quem tem este tipo de pensamentos.


 


Sabe-se que a temperatura ambiente afecta o conforto e, portanto, o estado psíquico do Homem – o humor e o comportamento – condicionando um vasto conjunto de acções mecânicas sobre as funções cerebrais. Do mesmo modo as diferenças de duração do dia e da noite contribuem também para afectar o bem-estar psíquico dos indivíduos.


 


Não poderemos, apesar disso, estabelecer uma relação entre o acto suicida e o momento do dia, por não encontrarmos estudos que o fundamentem. Reparamos, contudo, que não raras vezes as noticias destes acontecimentos referem a noite como tendo sido o momento em que esse acto foi pensado, planeado e nalgumas vezes cometido.


Na verificação dos dados de uma consulta da especialidade, verificou-se que as “tentativas de suicídio são um fenómeno predominantemente da tarde e da noite, em acto impulsivo em casa, após discussão no contexto de um conflito pré-existente, mais frequentemente com o parceiro”.


 


Porém, tem-se verificado que, apesar de todas as condicionantes de risco, de ordem pessoal, psicológica, psicopatológica e social, se a pessoa encontrar alguém com quem tenha oportunidade de falar (por exemplo: um serviço de apoio emocional como os apresentados na coluna direita deste blog), num gritante desabafo dum sufoco insustentável, que o escute, compreenda e a ajude a ver a sua própria vida com carinho é, por vezes, suficiente para evitar o acto.


 


Ana Santos


 

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10.2.09


 


O suicídio é hereditário?


 


Nem todos os suicídios podem ser ligados à hereditariedade, embora histórias de suicídios na família possam contribuir para sentimentos de desvalorização pessoal e da vida. A hereditariedade só por si, não é factor de risco, mas estando acrescida de vários outros factores, poderá ser mais um indício.


 


Se na família já houve outros suicídios é preciso estar muito alerta, embora este não seja hereditário, existe um risco deste comportamento se repetir, através de uma aprendizagem de como alguém próximo enfrentou e resolveu os seus problemas. Este risco de repetição comportamental é mais pertinente nas famílias em que a depressão é comum. Tendo em conta que não é fácil lidar com o suicídio, muito menos com o suicídio de alguém próximo, esse acto poderá desencadear sentimentos de culpa e de impotência, aumentando assim a probabilidade de sentimentos de desesperança que rapidamente conduzem à depressão e à falta de objectivos de vida. Claro que isto não é linear, uma vez que cada pessoa é um mundo e como tal, estamos constantemente rodeadas de factores protectores que permitem desenvolver estratégias para ultrapassar esses sentimentos e "dar a volta por cima".


 


Não podemos concluir que, se existe história familiar de suicídio, a pessoa em crise irá igualmente suicidar-se, ou que tem o suicídio nos "genes", pois o comportamento não é algo transmitido geneticamente, mas sim socialmente.


 


Ana Lua

 

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8.2.09


 

Após o momento mais grave de uma crise, há uma redução do risco de suicídio?

  

É certo que, ultrapassada uma altura complicada, um período difícil, uma chamada crise (ó palavrinha omnipresente…), a alegria ou o puro alívio (O pior já passou…) que sentimos impelem-nos a darmos o assunto por encerrado e passarmos adiante, até porque sabemos que ficar a revolver águas passadas não faz bem à saúde.

 

Inúmeras alturas haverá em que esta é a melhor opção. Mas será que, depois de sabermos que uma pessoa, ainda mais se for próxima, tentou suicidar-se mas não conseguiu, conseguiremos permanecer neste descanso? Provavelmente não.

 

Provavelmente ela percorreu um caminho longo e penoso entre a primeira vez que pôs sequer essa hipótese e o momento em que a colocou em prática. Mesmo que tenhamos decidido ter sido uma “chamada de atenção”, não terá decorrido de uma dose de sofrimento demasiado difícil de comportar? Provavelmente uma pessoa só numa enorme desesperança decide suicidar-se, e provavelmente é um sentimento que corre fundo, não será simples de reverter. É verdade que o intento de terminar com a própria vida tem um pico e depois de algum tempo (sendo que o tempo acaba por não ser o mais importante mas sim o que nesse decorrer vai acontecendo) a pessoa ou o ultrapassa, com ou sem ajuda, ou pode tentar outra vez sim. Aliás, estudos referem que oitenta por cento das pessoas que consumam o suicídio não o fazem na primeira tentativa mas em tentativas posteriores. Provavelmente é porque pouca coisa mudou entretanto. Na dúvida mais vale sossegarmo-nos.

 

E, mesmo que tenhamos medo, mais vale acompanhar, disponibilizar os nossos ouvidos e o nosso amor, interessarmo-nos, perguntar, tentar ajudar de coração mas sem tomarmos sobre nós a responsabilidade da decisão última, que será sempre daquela pessoa, procurar outras ajudas.

 

Para assim, já mais sossegados, podermos confiar no significado da palavra “crise” em mandarim – ao que parece é formada pelos ideogramas “perigo” e “oportunidade” e consta que pode ser uma dádiva maior. Que o seja, para todos nós!

 

Ana A

 
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4.2.09


 


O suicídio não escolhe contas bancárias.




O dinheiro, o estatuto social e a realização profissional são factores importantes que contribuem para o bem-estar das pessoas. Contudo, não é porque se é rico, ou pobre, que se tem mais ou menos vontade de morrer. A alegria de viver não é algo que se compre e a tristeza é gratuita, ao alcance de todos.




A depressão profunda que, geralmente, acompanha a vontade de morrer, pode ter várias origens e razões mas é transversal a todas as classes sociais. Apesar das hierarquias sociais, da competitividade e do tão (in)desejável poder, todos nós ficamos em pé de igualdade perante a nossa mortalidade. O desejo de morrer perfura qualquer extracto social. Despindo-nos dos sinais exteriores de riqueza ou pobreza, da educação à qual tivemos ou não acesso, restamos nós: seres humanos. Todos estamos sujeitos a sentimentos como a angústia, a perda, o medo, e outros que as palavras não descrevem.




Felizmente, para contrapor os sentimentos de dor, a alegria e a vontade de viver respondem com a mesma moeda, ao alcance de todos, vindos de dentro de nós.


 


Estefânia Sousa


 

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3.2.09

 


 


Todos os suicidas estão mentalmente doentes e o suicídio é sempre o acto de uma pessoa psicótica?


 


A visão sobre o suicídio tem-se alterado ao longo dos tempos. E, se em tempos mais recuados como a época medieval, não é possível dizer, com verdade, quantos suicídios ocorreram, é no entanto possível referir os factores potenciadores do acto. 


O suicídio era, para a igreja, o ceder a uma tentação diabólica de terminar com o desespero ou a loucura. Altamente condenado pela sociedade, era penalizado com a confiscação dos bens, e não se realizavam as cerimónias funebres.


A tendência, naturalmente, era para ocultar os actos de suicídio.


Existem alguns registos de pessoas que se suicidaram, mas os números são insignificantes. Jean-Claude Schmitt, em investigações efectuadas, não encontrou mais do que 54 casos em três séculos.


Quanto à tipologia e aos factores potenciadores do suicídio, este era praticado por ambos os sexos e por diferentes classes sociais. Os motivos eram variados: miséria, doença, sofrimento fisico (exemplos: a tortura e o medo do castigo), honra, amor, ciúme...




As razões e a incidência dos factores potenciadores alteraram ao longo dos tempos.


Se em tempos mais recuados, a honra, a tortura e o amor, por exemplo, eram razões bastantes para o suicída, hoje em dia estes factores parecem ter cedido o lugar às questões da saúde: fisica, casos de doenças graves e prolongadas; mental, como a depressão a esquisofrenia e as dependências.


Apesar destas alterações, parece-me errado reduzir os factores predisponentes a razões de ordem mental ou psicótica que, embora predominem, não nos devem distrair dos factores psico-sociais e familiares.


O apoio social ou a falta dele, uma separação que não se quer, a perda de emprego, o luto, familiares e ídolos com história de suicídio, visão de um futuro negativo, privação de liberdade, falta de objectivos e falta de religiosidade, podem criar nos individuos vazios e perturbações existênciais que, não raras vezes, terminam no suicídio.


 


Cidália Carvalho


 

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2.2.09

 


 


Falar sobre suicídio encoraja alguém a tentá-lo?

 

De facto, está comprovado que não. A forma e o conteúdo da conversa sobre o suicídio é que vão determinar a alteração da ideação suicida.

Já há muito anos que a Organização Mundial de Saúde tem produzido documentos que esclarecem a forma como a temática do suicídio deve ser abordada, por exemplo, na comunicação social. Infelizmente estes documentos têm sido ignorados sistematicamente pelos meios de comunicação, que preferem dar uma cobertura sensacionalista do ocorrido, em vez de informarem onde as pessoas que se sentem vulneráveis e com ideações suicidas podem pedir ajuda.

 

Falar sobre o suicídio e sobre os sentimentos de alguém que pensa em suicídio é, na maior parte das vezes, a melhor forma de aliviar alguma tensão, pois permite que a pessoa partilhe o que sente com alguém que a aceita e não julga e, por outro lado, permite-lhe também compreender melhor a sua situação e percepcionar soluções alternativas ao suicídio.

 

Normalmente este tema é mais difícil de abordar para quem coloca a questão, do que para quem é abordado, pelo medo de que a resposta seja positiva, de que a outra pessoa esteja mesmo a pensar em suicídio, ficando então sem saber o que fazer com essa informação. Ora, falar sobre os sentimentos que levam alguém a pensar em suicídio e escutar o que essa pessoa possa ter para dizer, sem fazer julgamentos e sem tentar dar soluções, são meio caminho andado para que a ideação suicida diminua e não aumente.  

 

Por isso, não tenha medo de questionar alguém sobre a vontade que tem em acabar com a sua própria vida. Se a resposta for negativa, pelo menos já sabe que não há razão para se preocupar. Se a resposta for positiva, você e a conversa que tiverem, poderão ser o único obstáculo entre levar a cabo uma tentativa, ou não.


 


É importante, no entanto,  ter em atenção que se a outra pessoa decidir levar a tentativa por diante, não tem sentido questionar-se: “o que é que eu fiz de mal?”, ou “a culpa é minha por não ter conseguido.”. Em última análise a decisão está sempre nas mãos de quem atenta contra a sua própria vida.

 

Alexandre Teixeira


 

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29.1.09


 


Há um velho provérbio português que diz que cão que ladra não morde.


Este provérbio, aplicado a quem fala em suicídio, poderá ser traduzido para: aquele que fala em suicidar-se, nunca o tentará.


 


Esta ideia poderá ser tranquilizadora para quem está próximo de uma pessoas que fala em colocar fim à sua própria vida. Com essa tranquilidade, poderá descansar e esquecer a importância e a gravidade incomodativa daquilo que ouviu, viu, ou percebeu.


 


Acontece porém que essa ideia, na maioria dos casos, não contém qualquer verdade.


De facto, em cada 10 pessoas que fazem uma tentativa de suicídio, pelo menos 8 delas deram sinais prévios dessa vontade. Muito raramente a decisão de um suicído é tomada repentinamente e executada de imediato. Os sinais podem ser muito explícitos e claros, mas também poderão ser bastante subtis.


 


Frases como: "Só me apetece desaparecer.", ou "Já não me importo mais.", mudanças de atitude, comportamento ou aparência, uma aparência deprimida ou taciturna, a preocupação em colocar os assuntos pessoais em ordem, ou dar objectos de estimação, assim como um aumento dos consumos de drogas ou de álcool, são sinais que deverão deixar-nos alerta.


Convirá que a nossa atenção fique desperta, que a nossa curiosidade funcione e nos leve a esclarecer a situação, com cuidado, mas sem medos.


 


Se, efectivamente, os sinais corresponderem a uma ideia de suicídio, convirá aproximar aquele que assim pensa, de uma ajuda. E essa primeira ajuda poderá ser um serviço de apoio emocional (a lista desses serviços, em Portugal, está neste blog, na coluna do lado direito).


 


FCC


 

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28.1.09

 








 


Amou daquela vez como se fosse a última

Beijou sua mulher como se fosse a última

E cada filho seu como se fosse o único

E atravessou a rua com seu passo tímido

Subiu a construção como se fosse máquina

Ergueu no patamar quatro paredes sólidas

Tijolo com tijolo num desenho mágico

Seus olhos embotados de cimento e lágrima

Sentou pra descansar como se fosse sábado

Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe

Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago

Dançou e gargalhou como se ouvisse música

E tropeçou no céu como se fosse um bêbado

E flutuou no ar como se fosse um pássaro

E se acabou no chão feito um pacote flácido

Agonizou no meio do passeio público

Morreu na contramão atrapalhando o tráfego



Amou daquela vez como se fosse o último

Beijou sua mulher como se fosse a única

E cada filho como se fosse o pródigo

E atravessou a rua com seu passo bêbado

Subiu a construção como se fosse sólido

Ergueu no patamar quatro paredes mágicas

Tijolo com tijolo num desenho lógico

Seus olhos embotados de cimento e tráfego

Sentou pra descansar como se fosse um príncipe

Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo

Bebeu e soluçou como se fosse máquina

Dançou e gargalhou como se fosse o próximo

E tropeçou no céu como se ouvisse música

E flutuou no ar como se fosse sábado

E se acabou no chão feito um pacote tímido

Agonizou no meio do passeio náufrago

Morreu na contramão atrapalhando o público



Amou daquela vez como se fosse máquina

Beijou sua mulher como se fosse lógico

Ergueu no patamar quatro paredes flácidas

Sentou pra descansar como se fosse um pássaro

E flutuou no ar como se fosse um príncipe

E se acabou no chão feito um pacote bêbado

Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado



Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir

A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir

Por me deixar respirar, por me deixar existir,

Deus lhe pague

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir

Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir

Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,

Deus lhe pague

Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir

E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir

E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,

Deus lhe pague


 


Composição: Chico Buarque


 


 

Tem, decididamente, a ver com auto-preservação: seria agonizante viver se nos deixássemos tocar por todas as histórias ao nosso redor, as tristes, diga-se, à falta de melhor palavra.

Com o rodopio em que facilmente tornamos as nossas vidas, nós no centro em perseguição de coisas felizes, é inevitável que tantos mundos nos passem ao lado, tipo meteorito – sem um raspãozinho sequer... Quando muito, atrapalham. Afinal, é humano, e não haverá dedo nenhum a apontar.

 


Ana A


 

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Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 13:14  Ver comentários (1) Comentar

7.11.08


 


Para a Escutar, amanhã não é mais um dia, realizar-se-ão as 1.as Jornadas sobre Prevenção do Suicídio, sob o lema Conhecer para Prevenir.


Amanhã, com o empenho, o esforço e a persistência de um punhado de voluntários, concretiza-se um sonho de muitos meses, desta jovem associação.

A Ana, voluntária na Escutar, lançou o repto: “O que esperamos deste evento?”.

A minha resposta foi quase nada, ou coisa sem jeito, mas a pergunta ficou a fazer eco na minha cabeça.

Hoje, a minha resposta teria mais conteúdo, referir-me-ia à importância destes eventos para se discutir e reflectir sobre assuntos tão importantes como o suicídio, a prevenção do mesmo, a formação pessoal e profissional nesta área comportamental.

Não esqueceria de apelar ao incentivo e à realização de mais iniciativas deste género, sinais vitais da associação.

E claro, referiria a importância de ouvir especialistas como os que vão estar presentes no evento.

Mas o que mais me ocorre, é dar os parabéns a todos os que, sonhando, não desistiram de tornar o sonho possível!

Cidália Carvalho
Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 14:42  Comentar

29.10.08


 

Debato-me com uma questão:

Quantos de nós já pensaram em suicidar-se?

Quantos escondem esse pensamento, essa vontade?

Por não saberem de onde provém esse pensamento, ou com vergonha de admitir que no mais íntimo dos seus pensamentos passa uma vontade de terminar com a própria vida.

 

Chegamos a pensar que é ofensivo questionar alguém, se pensa, ou se já alguma vez pensou, em suicidar-se e, por isso, nem nos atrevemos a perguntar, ou a pronunciar a palavra suicídio em voz alta, como se de uma doença contagiosa se tratasse.

Continuo a questionar-me quantos de nós, na verdade, já pensaram em pôr termo à sua existência, seja por pura infelicidade, ou por uma momentânea incapacidade de gerir uma dor interminável e esmagadora, uma dor que por si só tira a capacidade diária de respirar e de viver.

Parece que os que admitem esses pensamentos são “dementes”. Como se esses pensamentos nunca surgissem a que vive "normalmente" e muito menos a mim!!!

Eu!? Eu que vivo apaixonada pela vida? Eu que adoro viver? Eu que só por sentir o vento me sinto feliz?

Sim, eu!

 

Houve um momento na minha vida, em que pensei que o suicídio seria a solução do meu problema.

Um momento em que perdi a vida ao ver morrer uma das minhas almas gémeas. Perdi o seu calor, o seu conforto e a mão forte que me guiava.

Com milhares de pessoas à minha volta, senti-me só...

Os pensamentos vagueavam presos a um passado que jamais voltaria a ser presente... por muitos adjectivos que utilizasse, nunca conseguiria descrever, escrevendo, sentimentos devastadores e demasiado insuportáveis.

Perdi o ventre que me deu vida, os braços que asseguraram a minha sobrevivência, o sorriso que me fazia feliz...

O sentido da minha vida dissipou-se e com ele a vontade de viver.

Pensei e desejei morrer!

Morrer nos meus próprios braços!

Sim! O suicídio é um pensamento que já me ocorreu!

Mas houve alguém que se atreveu a perguntar!

Houve alguém que ousou “ofender-me”, salvando-me dos meus próprios pensamentos!

 

Quantos de nós pensam no suicídio?

Não existindo uma “ofensa” capaz de questionar a existência de outro caminho e de salvar?

E nem sempre é apenas um pensamento que ocorre num determinado momento da vida, em que confundimos a dor com a falta de vontade de viver.

 

O perigo estará apenas num pensamento, na vontade de morrer, ou estará também na falta de uma pergunta, feita com preocupação e com a capacidade de salvar?

 

Susana Cabral

 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 14:04  Ver comentários (5) Comentar

27.10.08



 

Existem situações que, de tão bizarras, transformam a envolvente dramática do suicídio em episódios, no minimo, engraçados.

Atente-se que eu falo de "situações" e não de "pessoas".

Não conseguiria  nunca focar-me numa pessoa e brincar com um tema tão delicado como o suicídio, mas atentando nas situações não resisto a trazer para este espaço, dois casos.

 

Uma mulher, cansada da indiferença do marido, resolve chamar a sua atenção atirando-se da janela do quarto. Para que a chamada de atenção fosse ainda mais traumatizante, para o marido, resolve fazê-lo justamente quando ele fosse a passar. E assim,  num dos regressos a casa, ele leva com a mulher em cima. Teria acabado muito mal se a janela não fosse apenas da altura de um rés-do-chão elevado.

Nestas circunstâncias a mulher acabou em tribunal acusada, pelo marido, de tentativa de homicidio.

 

O outro caso, passou-se nos EUA neste período de crise financeira. É portanto, muito recente.

Os técnicos de recuperação de crédito de um banco foram executar a hipoteca de uma casa de uma senhora idosa, que vivia sózinha por não ter familia.

Com o desespero e ainda na presença dos bancários, a senhora esfaqueou-se e queria morrer. Os técnicos impediram-na de completar o acto e, sensiveis ao drama, resolveram perdoar a dívida.

A ironia da história é que a senhora, agora com casa, vai ter que viver num lar porque a assistente social fez um relatório onde informa que ela não tem condições para viver sózinha.


 


Cidália Carvalho


 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 00:01  Ver comentários (1) Comentar

14.10.08

 


Desde muito cedo aprendemos as regras para viver e conviver em sociedade. São-nos transmitidos os valores de uma conduta "honrada" e sem "preconceitos".

Desde muito cedo temos a capacidade de julgar, de justificar e de nos tornarmos intolerantes face a problemas a soluções que muitos não conseguem enfrentar. Somos capazes de tecer comentários e enchemo-nos de razão quando defendemos o nosso ponto de vista perante situações em que a ignorância é total, podendo-o ser, ou não, por opção.

 

Começamos por fingir que actos como o suicídio não existem nas nossas "redondezas", que nem de perto nem de longe roçam as nossas vidas e quando ouvimos falar que alguém se suicidou, pensamos de imediato que não existe nenhum problema assim tão "grande", ou tão "grave" que justifique tal acção, tão "cobarde" perante a vida. Os mais generosos podem comentar que nesse acto de "cobardia" existiu um acto de "coragem", por um ser humano ter conseguido infligir a si mesmo tamanha violência física.

Continuamos a divagar sobre os verdadeiros problemas, as verdadeiras causas e quando se divulga um qualquer suicídio, acabamos por nunca saber as verdadeiras razões e ficamos sempre a perguntar "o que estaria a passar na cabeça daquele ser humano?", ou "será que ninguém percebeu o caminho que estava tomar?", ou "é claro que só podia ter acabado em suicídio!".

 

Sempre ouvi este e aquele caso de alguém que tinha posto termo à sua vida, mas nunca parei para meditar sobre o assunto, até que de uma forma mais próxima o suicídio me bateu à porta, em forma de uma chamada telefónica, dando a conhecer que um amigo de longa data se tinha suicidado naquele dia. Não quis acreditar. Tratava-se um ser humano que sempre esteve de bem com a vida, que tinha sempre um sorriso para partilhar e que tinha um amor pela vida como eu nunca vi.

Questionei-me vezes sem conta do porquê. Depois senti imensos remorsos por nunca ter dado conta, por nunca me ter apercebido e, sobretudo, por não saber como poderia ter percebido e ter ajudado a prevenir um acto irremediável.

 

Foi nesse dia que decidi abrir os olhos, ver o suicídio como uma realidade e percebi que o conhecimento não "mata"; a ignorância é que pode deixar que alguém se mate.

 

Susana Cabral

 

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5.10.08

 


 


Nas notícias dos últimos dias sobre o fenómeno suicídio, como sempre, a comunicação social informa sobre ocorrências, ou sobre estudos à volta dessa temática, em modo mais ou menos sensacionalista, por vezes destaca alguns sinais de alerta, mas falha sempre no mesmo ponto: não informa aqueles que se sentem mal consigo, ou mal com os outros, aqueles imergem na solidão, como e onde poderão encontrar ajuda.


 


De que serve divulgar sinais de alerta quando depois, alguém identificando esses sinais em si, ou em alguém próximo de si, não sabe a quem recorrer, a quem pedir ajuda?


Como e onde avaliar o verdadeiro significado dos sinais detectados?


Como lidar com uma situação dessas?


 


E ainda bem que o blog do MiL RAZõES... tem ligações com os sítios na internet dos serviços de apoio emocional que existem no nosso país.


Esses serviços, todos com atendimento de voluntários preparados e treinados para comunicarem com pessoas, estejam elas apenas necessitadas de falar com alguém, ou estejam em crise profunda, são uma excelente porta de entrada para quem necessita de ajuda, mas tem dificuldades ou objecções em recorrer directamente a psicólogos ou a psiquiatras.


E todos esses serviços, se necessário, reencaminham para técnicos e serviços de saúde mental e com eles se articulam, complementando-os.


 


Espero o dia em que a comunicação social, quando noticiar um suicídio, quando divulgar um estudo, quando de alguma forma abordar este tema, não esqueça de, em simultâneo, informar onde e como podemos obter ajuda.


 


FCC

 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 12:12  Ver comentários (2) Comentar

3.10.08

   


Quem leu o Jornal de Notícias ou o Destak de hoje (páginas 3 e 4), deparou com um par de notícias que vêm reforçar e que justificam ainda mais a existência do Mil Razões...


Ambas as reportagens abordam dois temas que já nos preocupam há muito tempo e que irão ser debatidos no Mil Razões..., por um lado o suicídio nos jovens e por outro o suicídio nas forças policiais.

O que os dados dos estudos referenciados nas reportagens infelizmente nos indicam é que existe um aumento significativamente preocupante do número de suicídios nestas duas populações especificas.

Se ainda mais argumentos fossem necessários para justificar a realização e a participação nas 1.as Jornadas sobre Prevenção do Suicídio, aí estão eles!


 


Alexandre Teixeira


 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 15:50  Ver comentários (1) Comentar

22.9.08

  


O Mil Razões… é um sonho antigo da Escutar que nasceu da necessidade sentida de que haja um maior debate e uma maior divulgação das temáticas da saúde mental. No entanto, o desejo de que esta seja uma iniciativa com qualidade, fez com que fossemos adiando o projecto até conseguirmos reunir as condições por nós consideradas como necessárias.

 

O nosso primeiro tema é o suicídio.

Com as 1.as Jornadas Sobre Prevenção do Suicídio / Conhecer para Prevenir, queremos dar voz àqueles que diariamente criam conhecimento sobre este fenómeno que atinge tanto quem o tenta, como todas as pessoas à sua volta, querendo também abrir reflexão sobre a sua prevenção.

Graças ao esforço dos Voluntários da Escutar, conseguimos reunir em torno deste evento várias entidades locais, bem como ter a participação de alguns dos mais reputados nomes do panorama científico nacional, que nos irão obsequiar com diferentes perspectivas sobre o fenómeno do suicídio.

 

Alexandre Teixeira

 

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